Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti
...
Construiu uma cena em seus pensamentos, focando em cada elemento até que estivesse tão claro quanto uma pintura. A colina... grama verde, rochas, uns poucos arbustos, erva-do-vento entrelaçada. Ovelhas... duas, não, quatro... lã cinza-claro pendurada em nós, pés estreitos encontrando tração nas rochas, focinhos mordiscando a grama nova, caudas curtas sacudindo. Os aromas misturados de esterco de ovelha e lã úmida.
Um movimento... despertar-interesse-memória...
Varzil visualizou um pastor, não qualquer pastor, mas um chamado Donny. O pastor ficava bem acima das ovelhas, o cajado apoiado no ombro, em seu casaco de lã, com a face queimada de sol e olhos alertas.
Medo-ódio-fome. Apesar de não tão forte quanto antes, a resposta era inconfundível. Ovelha boa, homem mal.
Varzil imaginou o pastor se levantando, subindo a colina devagar, se afastando do rebanho. Tentou tornar a imagem mental tão vívida quanto antes... a sombra sobre a pedra, a respiração mais difícil enquanto o pastor alcançava o topo e formava uma silhueta contra o radiante céu... as ovelhas pastando, imperturbáveis... a forma distante do pastor desaparecendo sobre a crista da colina.
Agora Varzil visualizou um homem-gato agachado onde o pastor esteve sentado. Suas orelhas escuras erguidas em uma atitude que esperava ser amigável, de descanso. As ovelhas pastavam, desprotegidas.
Na caverna, o homem-gato real estava imóvel. Varzil nem mesmo sentia sua respiração. O último lampejo de medo-ódio-fome se extinguiu como poeira baixando, para ser substituído por um sentimento de espera-alerta.
O homem-gato na visão de Varzil se levantou. Movia-se rapidamente, embora tivesse tido pouca oportunidade de observar como se moviam quando calmos. Mas não havia sinal de hostilidade ou descrença do homem-gato real, apenas aquele espera-alerta. Cada vez mais perto, o homem-gato imaginário aproximou-se das ovelhas até parar a poucos passos do rebanho. Uma ovelha, uma fêmea bem gorda, olhou para cima e, com total ausência de interesse, andou em direção ao homem-gato até que o felino não-humano pudesse facilmente tocá-la.
Espera-alerta explodiu para fome-despertar!
O homem-gato imaginário estendeu suas garras afiadas para a ovelha. A ovelha placidamente aproximou-se e permitiu-se ser apanhada e colocada sobre os ombros do homem-gato, como Varzil havia visto pastores fazerem com animais feridos ou cordeiros muito jovens para andar sobre pastos ainda congelados na primavera.
Fome-despertar! Descrença... Fome! Esperança-esperança-esperança!
Varzil ergueu uma mão, palma para frente e dedos abertos para mostrar que não carregava nenhuma arma. O homem-gato na caverna prendeu sua atenção no gesto. Seus três companheiros também prestaram atenção. Pareciam estar esperando por algum sinal, embora não fizessem qualquer menção de pegar suas armas.
Varzil ouviu a respiração forte dos homens atrás dele, o farfalhar de tecido sobre couro. A onda de tensão na resposta dos homens-gato atingiu-o como um golpe físico. Ele rezou para que Eiric tivesse bastante controle sobre seus homens para mantê-los em alerta. Se ele mudasse seu próprio foco, o contato se quebraria.
Rezando para quaisquer deuses que o ouvissem, Varzil fechou os olhos e concentrou-se na imagem da caverna, como a vira há um momento atrás. Em sua mente, o homem-gato ainda segurava sua espada curva contra Harald, sangue escuro escorrendo pelo pescoço de seu irmão, os outros não-humanos em posição de ataque à luz tremeluzente da tocha. Agora Varzil imaginava o homem-gato baixando sua arma.
Com o máximo de autoridade que pôde reunir, Varzil mudou para a imagem mental do homem-gato carregando a ovelha. A figura do não-humano diminuía de tamanho enquanto subia o vale. Varzil mostrou-o seguindo a mesma rota que aqueles mesmos homens-gato haviam usado para fugir. Projetou claramente desta vez, o vale estava vazio. Não haveria perseguição.
Novamente, ele projetou a imagem do homem-gato largando sua espada e Harald se soltando, seguida imediatamente pela visão do homem-gato com a ovelha.
Solte meu irmão, e poderá levar a ovelha que capturou. Não o impediremos. Embora duvidasse que o homem-gato pudesse entender suas palavras humanas, Varzil sentiu uma onda de certeza ao ouvi-las em sua própria mente.
A última imagem que formou foi a da caverna e Harald saindo, livre. Enquanto os momentos se arrastavam, as linhas certas da imagem se turvaram como o reflexo em um lago sendo atingido por uma pedra. Na ondulação, percebeu formas distorcidas, um fundo de escuridão envolta por fogo. Homens-gato... sorrateiros, ocultos, seguindo tão rapidamente através das sombras como um falcão cortando o ar. Eles levavam ovelhas, cinzas e pesadas, penduradas sobre seus ombros.
Um movimento... despertar-interesse-memória...
Varzil visualizou um pastor, não qualquer pastor, mas um chamado Donny. O pastor ficava bem acima das ovelhas, o cajado apoiado no ombro, em seu casaco de lã, com a face queimada de sol e olhos alertas.
Medo-ódio-fome. Apesar de não tão forte quanto antes, a resposta era inconfundível. Ovelha boa, homem mal.
Varzil imaginou o pastor se levantando, subindo a colina devagar, se afastando do rebanho. Tentou tornar a imagem mental tão vívida quanto antes... a sombra sobre a pedra, a respiração mais difícil enquanto o pastor alcançava o topo e formava uma silhueta contra o radiante céu... as ovelhas pastando, imperturbáveis... a forma distante do pastor desaparecendo sobre a crista da colina.
Agora Varzil visualizou um homem-gato agachado onde o pastor esteve sentado. Suas orelhas escuras erguidas em uma atitude que esperava ser amigável, de descanso. As ovelhas pastavam, desprotegidas.
Na caverna, o homem-gato real estava imóvel. Varzil nem mesmo sentia sua respiração. O último lampejo de medo-ódio-fome se extinguiu como poeira baixando, para ser substituído por um sentimento de espera-alerta.
O homem-gato na visão de Varzil se levantou. Movia-se rapidamente, embora tivesse tido pouca oportunidade de observar como se moviam quando calmos. Mas não havia sinal de hostilidade ou descrença do homem-gato real, apenas aquele espera-alerta. Cada vez mais perto, o homem-gato imaginário aproximou-se das ovelhas até parar a poucos passos do rebanho. Uma ovelha, uma fêmea bem gorda, olhou para cima e, com total ausência de interesse, andou em direção ao homem-gato até que o felino não-humano pudesse facilmente tocá-la.
Espera-alerta explodiu para fome-despertar!
O homem-gato imaginário estendeu suas garras afiadas para a ovelha. A ovelha placidamente aproximou-se e permitiu-se ser apanhada e colocada sobre os ombros do homem-gato, como Varzil havia visto pastores fazerem com animais feridos ou cordeiros muito jovens para andar sobre pastos ainda congelados na primavera.
Fome-despertar! Descrença... Fome! Esperança-esperança-esperança!
Varzil ergueu uma mão, palma para frente e dedos abertos para mostrar que não carregava nenhuma arma. O homem-gato na caverna prendeu sua atenção no gesto. Seus três companheiros também prestaram atenção. Pareciam estar esperando por algum sinal, embora não fizessem qualquer menção de pegar suas armas.
Varzil ouviu a respiração forte dos homens atrás dele, o farfalhar de tecido sobre couro. A onda de tensão na resposta dos homens-gato atingiu-o como um golpe físico. Ele rezou para que Eiric tivesse bastante controle sobre seus homens para mantê-los em alerta. Se ele mudasse seu próprio foco, o contato se quebraria.
Rezando para quaisquer deuses que o ouvissem, Varzil fechou os olhos e concentrou-se na imagem da caverna, como a vira há um momento atrás. Em sua mente, o homem-gato ainda segurava sua espada curva contra Harald, sangue escuro escorrendo pelo pescoço de seu irmão, os outros não-humanos em posição de ataque à luz tremeluzente da tocha. Agora Varzil imaginava o homem-gato baixando sua arma.
Com o máximo de autoridade que pôde reunir, Varzil mudou para a imagem mental do homem-gato carregando a ovelha. A figura do não-humano diminuía de tamanho enquanto subia o vale. Varzil mostrou-o seguindo a mesma rota que aqueles mesmos homens-gato haviam usado para fugir. Projetou claramente desta vez, o vale estava vazio. Não haveria perseguição.
Novamente, ele projetou a imagem do homem-gato largando sua espada e Harald se soltando, seguida imediatamente pela visão do homem-gato com a ovelha.
Solte meu irmão, e poderá levar a ovelha que capturou. Não o impediremos. Embora duvidasse que o homem-gato pudesse entender suas palavras humanas, Varzil sentiu uma onda de certeza ao ouvi-las em sua própria mente.
A última imagem que formou foi a da caverna e Harald saindo, livre. Enquanto os momentos se arrastavam, as linhas certas da imagem se turvaram como o reflexo em um lago sendo atingido por uma pedra. Na ondulação, percebeu formas distorcidas, um fundo de escuridão envolta por fogo. Homens-gato... sorrateiros, ocultos, seguindo tão rapidamente através das sombras como um falcão cortando o ar. Eles levavam ovelhas, cinzas e pesadas, penduradas sobre seus ombros.
continua...
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