quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A Forja de Zandru - trecho 31

Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross


Tradução: Gisele Conti

7


Varzil parou sob os arcos que levavam à câmara central da Torre Arilinn. Era difícil acreditar que estava ali realmente para ficar. Mesmo enquanto o carro-aéreo levava-o de volta à cidade de Arilinn, ele ainda esperava algum desapontamento. Talvez o Guardião continuasse com sua primeira recusa ou seu pai o convocasse de volta sob algum pretexto. Mas nada do que temia aconteceu. O Guardião não pediu explicações sobre sua mudança de planos, apenas expressou sua alegria ao dar a Varzil um lugar como novato. Confuso pela rapidez dos eventos recentes e suas inesperadas mudanças, Varzil não fez perguntas. Estar ali era o suficiente, pertencer àquele lugar.
Tapeçarias e mosaicos no chão brilhavam em tonalidades de pedras preciosas. Um fogo dançava na lareira, produzindo uma amigável luz laranja nas faces das pessoas sentadas em um semicírculo desigual em cadeiras e bancos acolchoados. Ele não imaginava que tantos vivessem e trabalhassem em Arilinn.
Em um lado, uma jovem com cabelos tão vermelhos que rivalizavam com as chamas, segurava uma pequena harpa conhecida como rryl. Varzil não a conhecia, embora tenha sido apresentado ao homem que a acompanhava com o tambor de colo... Fidelis, que o levara para dentro da Torre naquela primeira manhã e que o ensinaria monitoramento. A mulher de meia-idade acompanhando-a através dos versos da balada em um obscuro dialeto cahuenga era Lunilla, a mãe da casa e mecânica de matriz. Ele a conhecera junto com vários outros durante sua primeira visita ali e ainda podia lembrar de como ela o tratara, do mesmo jeito controlador de sua tia Ysabet.
Naquele instante, soube que ela o notara, embora continuasse firme com o próximo verso. Ela, e todos os outros na sala. O sentimento de estar preso em uma terra estranha se intensificou. Algo além da luz da lareira unia aquele povo um ao outro. Algo no ar... um zunido ao longo de seus nervos.
Varzil? Fidelis virou-se para olhar diretamente para ele, um sorriso marcou os cantos de seus olhos. Tinha a mesma idade de Dom Felix, com apenas um traço de castanho em seu cabelo branco.
Varzil pensou inquieto se devia responder em voz alta.
Está tudo bem. Queria apenas saber se me ouvia. Não lemos a mente um do outro casualmente ou sem permissão. Mas mesmo o burro de Durraman, cego como as colinas e duas vezes mais surdo, poderia perceber o quanto se sente embaraçado de pé aí sozinho. Venha e junte-se a nós.
Varzil ergueu o queixo e entrou na sala. Era muito tímido para juntar-se a eles, pois sua voz, que não era muito boa, provavelmente soaria como o coaxar do sapo escondido nos bolsos infames de Fra’ Domenic. Hesitava em se juntar às pessoas mais velhas, não antes de descobrir as linhas de influência, quem havia se oposto à sua admissão e quem ficara ao seu lado. Então avistou Carlo e o outro jovem da sacada, sentados diante de um tabuleiro de jogo. O cabelo volumoso e flamejante de Carlo era inconfundível.
Carlo gesticulou para que se aproximasse. - Joga castelos? Precisamos de um novo desafiante.
Varzil baixou a cabeça. - Sim, costumava jogar com meu avô. Mas não quero interromper seu jogo.
- Ah, este aqui já acabou mesmo. - Carlo indicou as peças espalhadas no tabuleiro. - Enrolamos o jogo até a exaustão, como uma guerra ruim. Agora não resta mais nada além de golpear um ao outro até o mais amargo fim. Qual a diversão nisso?
- Este é o sentido de todo o jogo, - disse o outro garoto, - perseverar até a vitória.
Agora que vira o outro garoto bem de perto, Varzil notou o quão sério, quase austero, ele parecia. Diferente da maioria, seu cabelo era castanho em vez de vermelho, suas sobrancelhas negras arqueadas contra a pele pálida e imaculada. Suas feições eram finas, os profundos olhos azuis firmes, a boca pequena sobre um queixo pontiagudo. Mais ainda assim não havia delicadeza nele, e sim uma força implacável.
- Prefiro pensar, - Carlo disse secamente, - que o sentido seja exercitar a mente. Sem mencionar o fato de ser um modo divertido de passar o tempo nas longas noites de inverno. Paciência obstinada não tem nada a ver com isso.
Paciência... a mesma palavra que revelou-se na mente de Varzil enquanto se fortalecia para a longa espera do lado de fora da Torre Arilinn naquela primeira manhã congelante.
- Acho que paciência tem tudo a ver com isso, - ele disse, claramente alarmando os outros. - Algumas vezes o tabuleiro está todo arrumado e cheio de possibilidades. Mas outras vezes, - ele copiou o gesto de Carlo, indicando o tabuleiro com suas peças restantes, - está deste jeito, e você só tem que continuar tentando. Este é o verdadeiro desafio, não é? Criar algo significante quando tudo parece perdido.
Eduin deu-lhe um olhar de surpresa, mas Carlo riu. - Você me lembra meu mestre cavalariço, que diz que o verdadeiro teste de um cavaleiro não é o que pode fazer em um cavalo arisco, pois qualquer pateta desajeitado pode parecer bom em um animal saltitante e ansioso para correr. Pegar um daqueles bem cansados do estábulo com uma boca dura como couro e trazê-lo à vida... isso requer verdadeira habilidade.
- Ele está zombando da gente, Carlo, - Eduin disse, olhando para Varzil.
- Você tem algumas razões para se opor, - Carlo replicou com bom humor. - Afinal, ele está tomando seu lado.
Varzil não sabia o que havia feito para provocar Eduin, mas era óbvio que o garoto de cabelo escuro não gostava dele. Em outras circunstâncias, pediria desculpas, mas sentia que nada que dissesse acalmaria Eduin. Então ele afastou um pouco o terceiro banco do tabuleiro e sentou-se, murmurando, - Por favor, continue.
Eduin virou-se, mas antes que Carlo pudesse comentar, um homem mais velho em um manto verde formal apareceu. Houve uma comoção geral enquanto a maioria dos outros largavam os livros ou os instrumentos musicais. Uma mulher escondeu sua costura em uma cesta e levantou-se.
- Bem, isso decide tudo, - Eduin disse com uma tentativa óbvia de melhorar o humor. - Vocês dois podem golpear-se um ao outro a noite toda. - Alguns de nós temos trabalho a fazer.

continua...

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