Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti
8
Cerriana jogou-se ao lado do corpo meio coberto de Carolin. Com uma mão, tocou sua mão estendida.
- Ele está vivo.
Ela era uma monitora, Varzil disse a si mesmo, e saberia isso com um toque. Ainda assim, seu coração acelerou enquanto se aproximava.
Ele envolveu as mãos ao redor do galho grosso e estilhaçado e puxou. Era surpreendentemente pesado. Ele cambaleou com seu peso. Valentina puxou inutilmente uma das partes menores. Cerriana não tentou ajudar, mas foi por baixo, em direção à cabeça de Carolin.
Com sua outra mão, Cerriana pegou sua pedra-da-estrela, uma lasca de um fogo azul facetado presa em cobre trabalhado em uma longa corrente entre seus seios. Ela brilhou com vida ao seu toque. Varzil quase pôde ver o brilho do laran envolvendo suas mãos enquanto trabalhava.
Valentina fungou, mas manteve-se em silêncio. Seus olhos redondos com aquela seriedade focada que Varzil já associava ao trabalho de matriz. Ela seguia a mente de Cerriana.
Varzil sentiu a concentração de Cerriana, a vibração de seu laran enquanto examinava Carolin. Mas Eduin... a mente de Eduin era um vazio. Varzil ergueu os olhos para ver o garoto mais velho descer, vagarosamente degrau por degrau.
Varzil inspirou profundamente, preenchendo seu pulmão, como havia visto os homens da propriedade de seu pai fazerem quando precisavam reunir alguma força. Soltando a respiração rapidamente, ele fez força contra o galho e moveu-o com toda a sua força. Não para cima, contra o peso da densa madeira, mas para os lados, girando o tronco. Para sua surpresa, ele se moveu.
- Vamos tirá-lo daí! - Cerriana voltou à consciência. - Não há nada quebrado... é seguro movê-lo. - Ela agarrou um dos braços de Carolin e Valentina o outro. Juntas, conseguiram soltá-lo. Varzil soltou o tronco.
Carolin estava imóvel, cabeça recostada, olhos fechados. As grossas pestanas curvadas sobre a face pálida. Um braço fora do lugar e o ombro extremamente inchado.
Varzil sentiu uma vaga presença. Carlo? Pode me ouvir?
O silêncio veio em resposta.
Quando Varzil ajoelhou-se ao lado de seu amigo, sentiu a aproximação de Eduin como um arrepio dos cabelos de sua nuca.
- Ele... ele caiu, - Eduin disse. - Não havia nada que eu pudesse fazer. - Ele engoliu em seco.
Através das barreiras de Eduin, Varzil pegou uma onda de intensa emoção, medo, preocupação e um estranho desespero, tudo borrado junto.
Cerriana, mais uma vez em contato com o jovem inconsciente, não respondeu, mas Valentina piscou.
- Não... - Varzil começou, querendo dizer, Não a distraia.
- Não me diga o que fazer! - Eduin rosnou. Ele circulou o tronco para agachar-se ao lado de Cerriana.
Não, surgiu através de Varzil. Ele engoliu a exclamação. O que havia de errado com ele? Eduin era amigo de Carolin, e tinha quatro anos de treinamento na Torre.
No mesmo momento que Eduin esticou sua mão, os olhos de Carolin se abriram. Ele deu um profundo e pesado suspiro. Lamentando, ergueu uma mão na testa. - O que aconteceu...?
- Quieto, - Cerriana disse. - Fique deitado enquanto o monitoro.
- Não, eu estou bem. - Carolin ergueu a mão e tentou se sentar. A cor imediatamente sumiu de sua face. Ele caiu para trás.
Varzil pegou as mãos de Carolin entre as suas. - Deixe Cerriana terminar seu trabalho. Levará apenas alguns minutos. Se sentar-se muito rápido, irá desmaiar e deixará Valentina chateada.
Valentina estava sentada, observando em silêncio sem demonstrar a mínima angústia.
A boca de Carolin torceu levemente no canto, mas ele não tentou mais se levantar. Cerriana continuou a examinar seu corpo. Eduin a imitava do outro lado.
Observando a expressão séria de Eduin e o cuidado com o qual examinava o ombro de Carolin, Varzil sentiu vergonha de suas suspeitas. Tinha mantido aquele estúpido rancor contra Eduin pelo fato de ele ter sido tão rude naquela primeira manhã?
- Conseguiu bater bem forte sua cabeça, Carlo, - Cerriana disse, sentando-se. - Não há sangramento dentro dessa sua cabeça dura e seu pescoço está intacto. Seu ombro está deslocado, mas parece que isso é o pior de tudo. Fiz o que pude, o trabalho de compressas de duas semanas de descanso em cinco minutos. Temo que não haja mais colheita de maçãs por hoje. - Ela riu. - Um método bem extremo de fugir do trabalho, digo-lhes de passagem.
Cerriana ajudou Carolin a se sentar. Ele gemeu de dor e segurou o ombro machucado. Seu braço estava fora de lugar.
- Ah! - Carolin estremeceu.
- Sinto muito, não tenho a habilidade para colocá-lo de volta, - Cerriana disse. - Fidelis tentou me ensinar, mas não sou forte o bastante e sempre deixava voltar para o lugar errado. Duvido que aprecie se colocasse meu pé em sua axila e puxasse o mais forte que puder. Não, é melhor colocar seu braço em uma tala e levá-lo de volta.
- Até lá, a junta terá inchado. Colocá-lo no lugar será muito mais difícil, - Varzil disse.
- O que faremos agora? - Eduin perguntou.
Cerriana olhou para Varzil, avaliando-o. Ele é tão pequeno, deve ter crescido em um monastério. O que pode saber sobre esses ferimentos?
continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário