Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. RossTradução: Gisele Conti
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Seu humor estava ótimo, e nem mesmo a idéia de meio dia de viagem ao lado de Eduin podia desanimá-lo. Desde o primeiro círculo no qual eles trabalhavam juntos na cura do pó de água-de-osso durante o último ano, a relação entre os dois tinha sido polida, às vezes quase cordial. Eduin não tinha família alguma, nem mesmo uma tão escandalosa quanto os Ridenows; tinha poucos amigos como Carolin que poderiam ajudar em seu avanço no mundo. Tinha um forte laran, sim, mas nenhuma esperança de influência política. E sua insegurança beirava a ambição, a qual Varzil podia sentir, mas não entender. Ser um laranzu de Arilinn, certamente a maior e mais prestigiosa das Torres modernas, já devia ser bastante glorioso. Varzil tinha a sensibilidade para perceber que nem todos pensavam como ele, que o sonho de um homem podia ser o pesadelo de outro.
Ainda era cedo quando Varzil visualizou o mesmo carro-aéreo que havia levado ele e seu pai a Água Doce. O aeroporto em si era um pouco mais do que um campo elevado. Os homens que deviam limpá-lo já haviam começado seu trabalho matinal. O gelo coberto de neve fazia ruídos sob os pés enquanto Varzil se aproximava do carro-aéreo. Um homem subira no teto arqueado, retirando a neve. Varzil focou sua silhueta contra o brilho do céu no oriente. Então o homem chamou-o, saudando-o pelo nome, e Varzil reconheceu o piloto.
- Como você está nesta bela manhã? - Varzil gritou. - É Jerônimo, não é?
- O mesmo, e fale por si só, rapaz. Não é particularmente belo desperdiçar uma manhã raspando neve e gelo, mas não confio minha nave àqueles cérebros de coelho-de-chifres da cidade. - O piloto desceu levemente ao chão. Ele segurava uma longa escova de crina de cavalo em uma mão e uma haste de osso na outra. Uma toalha estava enfiada em seu cinto. Sorriu amplamente. - Pronto para outra lição de vôo? Ou está acima disso agora que é um alto e poderoso laranzu de Arilinn?
- Trabalho honesto é sempre bem-vindo. - Um canto da boca de Varzil se torceu. - Ao menos que esteja tentando me dizer que voar uma engenhoca dessas não é trabalho honesto.
Jerônimo riu, jogando a cabeça para trás. - É verdade. Tem dias que acho um roubo, pegar o dinheiro de m’lorde por algo que pagaria para fazer!
Ele pegou a bolsa de Varzil, colocou-a no compartimento embaixo, e estendeu a escova para ele. - Vai pro outro lado e estaremos prontos pra voar em um minuto.
Estavam quase terminando com o carro-aéreo e a lufada de piadas quando Carolin e Eduin chegaram, seguidos por uma carroça trazendo sua bagagem. Dois dos silenciosos kyrri trotavam ao lado, incitando com palmadas o pesado chervine.
- Deixe isso aí, Varzil, e venha nos receber, - Carolin sorriu.
Varzil abaixou a cabeça, prestes a protestar que precisava daquele tempo extra para conseguir acompanhar. Carolin o provocara mais de uma vez sobre falsa modéstia. Depois da decisão de Auster, Varzil dificilmente conseguira fingir ser apenas um estudante comum. Assim sendo, conteve sua língua enquanto a conversa fluía.
...continua
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