quinta-feira, 3 de maio de 2012

A Forja de Zandru- trecho 44

Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti

...
Por um tempo, as colinas pareceram distantes. Então desapareceram de vista. Varzil, erguendo os olhos da refeição vespertina de carne fria de carneiro e pão besuntado com queijo envelhecido de chervine, pensou que Jerônimo tivesse virado o carro-aéreo para a direção oposta. O céu tornara-se nebuloso, todas as cores haviam se esvaído.
Varzil estremeceu. - Será que devemos passar através disso para alcançar Hali?
- Não é nada, vai... Lorde Varzil, - Jerônimo disse, seguindo seu olhar. - Nuvens baixas, provavelmente.
Do banco de trás, Carolin disse, - Os ventos de inverno costumam soprar nevoeiros contra as colinas. Parecem piores do que são. Jero já voara através deles dúzias de vezes.
Não, não são nuvens comuns.
Varzil projetou sua mente, saboreando o ar acima, frio e úmido, com o toque metálico do ozônio. Não desenvolvera muito sua sensibilidade ao clima como alguns outros em Arilinn o fizeram. Um círculo treinado podia mudar uma nuvem de chuva de um curso para outro com a manipulação dos ventos. Diziam que aqueles de linhagem Aldaran podiam não apenas redirecionar os padrões naturais do tempo, mas criar novos, sugando vapor da água dos rios e lagos, fazendo nuvens carregadas soltarem enormes trovões, movendo tempestades para onde quisessem.
Na mente de Varzil, as nuvens ondularam, amontoando-se e escurecendo com rapidez. Parecia estar olhando por cima, mergulhando nelas. Ele tossiu, atingido pelo ódio de seu peso denso e úmido, o sabor de mercúrio da eletricidade. As nuvens formavam um corpo, gigante e disforme, com nervos de um brilho entalhado. Varzil sentia-se como uma partícula infiltrada em sua turbulência, lançada dentro de um turbilhão branco e cinza. Incapaz de resistir, ele caiu em sua escuridão, formando círculos, aproximando-se, cada vez mais perto do coração negro da tempestade. Em um instante, a escuridão clareou e ele avistou a Torre abaixo. Estava lá, pura e branca contra a sombra, como se iluminada por um único raio de luz do sol.
Energia, rija e mordaz, condensou-se em luz. Uma cascata de trovão surgiu furiosa em direção à Torre.
NÃO!
A palavra saiu cortante através dele. Na vibração, sua visão clareou e ele olhou mais uma vez para as nevadas Planícies de Arilinn, erguendo-se agora em suaves colinas. Névoa, suave e translúcida, saía de suas fendas. O carro-aéreo balançava como um berço.
- É como eu disse, - disse Jerônimo. - Um pouco de vento, nada mais. Alguns homens têm estômago fraco para tais coisas, mas não é motivo para vergonha. É o seu caso?
Varzil balançou a cabeça, desejando que fosse apenas uma questão de estômago fraco. Ele vira uma tempestade, uma terrível tempestade, com relâmpagos em direção à Torre. Talvez tivesse sido apenas sua imaginação, alimentada pelas histórias da destruição de Neskaya. Mesmo enquanto pensava nisso, sabia que não era. Tinha visto uma tempestade real, em outro lugar, outra época.
Mas onde?E quando?

...continua

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