domingo, 16 de outubro de 2011

A Forja de Zandru - trecho 22

Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti

...
- Viu, - o piloto disse, - não é tão misterioso. Você pode aprender a fazê-lo.
- Não falaremos mais sobre isso, - Dom Felix disse, inquieto, - ou mais nenhuma distração inútil. Suas instruções são para levar-nos até Água-Doce o mais rápido possível, e não temos tempo para perder.
- Como desejar, contudo já estamos na melhor velocidade possível, portanto não há nada a perder com uma simples demonstração, - Jerônimo respondeu. - Em minha experiência, aprender nunca é uma perda de tempo. - Mesmo assim, ele refreou qualquer comentário adicional.
No silêncio do vôo restante, Varzil tentou imaginar o que teria acontecido com seu irmão Harald. Eles não eram especialmente próximos, pois eram separados em idade pelos gêmeos, Ann’dra e Silvie, que pereceram na adolescência devido à doença do limiar, e por Joenna. Uma terceira irmã, Dyannis, ainda era uma criança. Varzil tinha oito quando os gêmeos morreram, bem na época em que ouvira pela primeira vez o canto dos Ya-men nas colinas. Joenna agora estava prometida para o filho de um rico lorde de Alardyn, e muito mais interessada em seu casamento próximo do que em qualquer coisa envolvida com laran.
De todos os seus irmãos, Varzil sentia-se mais próximo de Dyannis. Seu próprio Dom ainda não havia aparecido, mas ele nunca duvidara que ela tivesse um, pois sempre parecia saber o que ele estava pensando antes mesmo de falar.
Harald era honesto, desdizendo os ancestrais dos Ridenow que eram habitantes das Cidades Secas. Como muitos em sua família, ele tinha talento para trabalhar com rebanhos. Em sua memória, Varzil viu seu irmão, cabelo dourado amarrado com uma tira de couro, sentado nas costas de um potro arisco, controlando o animal trêmulo, acalmando seus medos com a mente tanto quanto com palavras. Era um grande homem, de ombros fortes, com mãos gentis, uma face avermelhada pelo sol, uma risada matreira...
Escuridão. Uma linha de fogo na altura de suas costelas, rapidamente sendo cobertas pelo sangue. Dor penetrando fundo em seu ombro. Sede. Adrenalina como cinzas de cobre em sua boca. O cabo da espada firme em sua mão. Luz surgindo da fenda acima. O aroma almíscar de gato. Uma voz, rouca e urgente... - Eles nos viram, m’lorde?
Com um solavanco, o carro-aéreo tocou o chão. Varzil piscou, olhando através do painel transparente. Seu estômago girava. A escuridão em sua visão cedeu para revelar os arredores familiares. Estavam a uma curta distância da casa principal em Água-Doce, no campo perto das estrebarias. Uma porção de homens correu para recebê-los. Dom Felix desceu desajeitadamente do carro-aéreo, pedindo aos berros por cavalos selados e tochas.
Black Eiric pulou para o chão. - Vai dom, não está querendo cavalgar a noite! O sol já vai se por! Nem mesmo o melhor rastreador pode seguir uma trilha nessas colinas no escuro. Os homens-gato poderiam facilmente nos emboscar, também.
- Meu filho, meu Harald, está lá fora! Eu devo ir!
Varzil sentiu o desespero na voz de seu pai. O velho homem já estava pálido de exaustão mesmo antes de começarem a voltar a Arilinn. Havia descansado um pouco no carro-aéreo, mas apenas por que não tivera escolha, preso naquele espaço estreito.
- Pai, ficará doente se continuar assim. - Varzil tocou o braço de seu pai.
Antes que seu pai pudesse protestar, Varzil continuou. - O que você pode conseguir que Eiric e seus homens não? Pode ver no escuro? Pode rastrear melhor do que eles? O que será de Água-Doce se houver uma luta e você for ferido?
- Seu moleque... - Acha que pode me dar ordens?
Embora seu pai tentasse se soltar, Varzil o segurou firme. Através das camadas das vestes de seu pai, ele sentiu um leve, profundo tremer nos ossos.
- Você é lorde e mestre por aqui! - Varzil disse. - Toda essa propriedade depende de você, desde ordenar o trabalho do dia até falar por nós no Conselho Comyn. Não é um homem comum, que pode arriscar-se a seu bel prazer!
- Arriscarei a mim mesmo como desejar! - Dom Felix gritou, - Como posso me sentar na minha própria lareira como um velho inútil? Meu filho está perdido naquelas colinas, talvez morrendo!Você tem outro filho, Varzil pensou, que está bem diante de ti agora.

continua...

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