terça-feira, 1 de novembro de 2011

A Forja de Zandru - trecho 24

Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti


...

Mas isto, isto era algo diferente. Ele sentia algo estranho, como um ferimento ainda sangrando. Não havia nada daquela paz na passagem de seu avô. Enquanto se aproximava com aquele laran recém-despertado, ele pôde quase sentir os momentos finais das vidas daqueles homens. Algo neles ainda se prolongava, uma porta entre vida e morte se mantinha entreaberta pelo choque de sua partida.
Sim, agora que prestou mais atenção, viu que aquele vazio era um corte mal-curado. Cinza borrou sua visão. Com esforço, desviou-se da onda sedutora para seguir aonde aqueles homens tinham ido.
Não carregava armas, nem as espadas retas dos homens ou as lâminas curvas de seus atacantes felinos. Metal era muito precioso para ser abandonado casualmente. Apenas esperou que não encontrasse uma das próprias espadas de seu pai virada contra ele.
Eiric desmontou e traçou um grande círculo, estudando o chão. - Ah, está tudo muito remexido ou cheio de trilhas para todos os lados. Homens-gato não deixam muitas pegadas com aquelas suas patas macias. Precisaria de um milagre de Aldones para encontrar um sinal de sua passagem.
- Ou a sorte amaldiçoada de Zandru, - um dos outros murmurou.
- É, também, - Eiric concordou. Ele apontou para o norte, onde a encosta encontrava-se com outra em uma descida estreita. - Meu palpite é que os homens-gato estão entocados lá em cima. Aqui há cavernas por todo o lado.
Tropeçando sobre pedras ou corpo peludos caídos, descendo a colina rapidamente, parando para atacar e desviar. A imagem de lábios finos sobre os caninos, um grito sibilante de dor. Correndo, correndo mais. As cavernas nossa única esperança...
Varzil gesticulou para o norte. - Harald está ali.
Eiric concordou. O movimento lançava sombras espectrais sobre suas feições cravadas. - Sim, se ele teve a chance de correr para a segurança, é para lá que ele foi. Ele veio até aqui no Solstício de Verão, uma vez que o jovem mestre Ann‘dra os seguiram, não se lembra?
Varzil lembrou-se de ouvir essa história, embora na ocasião fosse muito jovem para juntar-se às escapadas de seus irmãos mais velhos. Ele permaneceu parado e tentou focar seus pensamentos. Se de algum modo pudesse fazer com que Harald soubesse que ele estava ali e que a ajuda estava à caminho...
Momentos passaram, mas não houve resposta, nem mesmo outro ligeiro contato. Eiric falou com ele novamente, rompendo seu devaneio, e eles desceram a encosta. De vez em quanto, Varzil parava para procurar com sua mente. Nenhuma impressão chegou até ele. Tendo uma vez tocado a mente de seu irmão, ele tinha certeza que saberia se Harald não estivesse mais vivo. Podia haver outras explicações para a ausência de contato. Talvez Harald estivesse inconsciente ou muito perdido no delírio da infecção para ter algum pensamento coerente. De qualquer modo, o tempo estava correndo.
Os cavalos tropeçavam no terreno cada vez mais rochoso. A montaria de Eiric pisou em uma pedra solta e caiu de joelhos. Quando se levantou, o animal estava sangrando, mas não mancava. Um dos outros homens cedeu a Eiric sua própria montaria.
Depois disso, eles continuaram a pé, puxando seus cavalos. Moviam-se mais vagarosamente, mantendo-se juntos. A esta distância das colinas marcadas por cavernas, com homens-gato espreitando por todos os lados, sua maior proteção era seu número.
O tempo correu enquanto as luas moviam-se no céu. Idriel se pôs. A noite tornou-se mais escura e depois mais clara, um tom leitoso ao longo do horizonte ao leste. Tochas ficaram mais fracas. Quando se apagaram, Eiric não ordenou que acendessem outras.
Varzil estremeceu como se gelo furasse o tutano de seus ossos. Esfregou seus braços com as mãos, irritando a pele. Exalando, ele esperou ver sua respiração como névoa congelada.
Frio... tremor... Uma voz que conhecia, mãos em seus ombros, o cabo da espada tremendo entre suas mãos... - Silêncio, m‘lorde, ou eles nos ouvirão!
O gelo não estava dentro dele afinal, mas no corpo febril de seu irmão.
Varzil tinha que alcançá-lo... mas como? Ele nunca fora ensinado a usar sua pedra-da-estrela para aumentar um contato telepático, mas sabia que era possível. Ele retirou a pedra azul de onde estava presa, envolta em seda impermeável, em uma corda ao redor de seu pescoço, e focou. O fogo azul, que tinha aumentado seu brilho na Torre Arilinn, preencheu sua visão. Ele a aspirou através de seus olhos, através de sua respiração.
Harald! Pode me ouvir?


continua...

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