Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti
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Capitulo 6
Eles tinham percorrido apenas um curto caminho para dentro da montanha quando Black Eiric avistou sinais de grande esforço... pingos de sangue seco, marcas de botas na areia, rochas recentemente remexidas. O túnel dava para um caminho que continuava na mesma direção, e duas passagens laterais. Uma era um pouco mais do que uma fenda, mal dando para que um jovem esguio passasse de lado. Pedregulhos cobriam o chão da passagem principal, sem pegadas ou outros sinais de desordem.
Os cabelos ao longo da nuca de Varzil se arrepiaram. Quando Eiric gesticulou que deviam continuar no caminho mais largo, seus pés travaram. Ele balançou a cabeça enquanto sua relutância interior crescia.
Varzil não entendia sua própria reação. Fazia sentido pegar a passagem mais larga com aqueles vários homens, onde poderiam ter a chance de usar suas armas. Não podia pensar em nenhuma razão para que Harald, ferido e talvez extremamente apressado, escolhesse a rota mais estreita e tortuosa.
Não disse nada em voz alta. Eiric perguntou se seu laran lhe havia dito qualquer coisa, mas ele não tinha nada a oferecer. - Então vamos continuar, - Eiric disse. - Olhos atentos agora, e estejam prontos para tudo.
Eles se arrastaram, com Varzil na retaguarda. A tocha de Eiric lançava sombras ondulantes. A bota escorregadia sobre a areia grossa e o barulho do couro esbarrando ocasionalmente na parede provocava arrepios nos nervos de Varzil. Ele tencionou os ouvidos ao som de um felino, o lamento de um homem ferido; para o que mais, ele não sabia.
Quando tentou alcançar com sua mente, notou apenas uma tensão, uma espiral de forças invisíveis que não sabia nomear. Nenhuma imagem veio de Harald ou de qualquer outra coisa.
O coração de Varzil batia uma tatuagem irregular contra suas costelas. Sua garganta secou e suas palmas ficaram úmidas. Seu estômago embrulhou. Eles passaram por uma área secundária, uma parte escura, e depois outra área. O ar era pesado e úmido.
- Cuidado agora, - o sussurro de Eiric ecoou assustador. - Estamos próximos a uma curva.
Eles continuaram, ainda mais devagar. O túnel caiu para a direita e desapareceu. Varzil sentiu um aroma almíscar como de um gato da montanha. A tocha, que Eiric levantara acima de sua cabeça, de repente caiu no chão. Um uivo inumano se quebrou em um pandemônio de ecos. O túnel explodiu com ação frenética, vagamente iluminada à luz da tocha caída. Num momento, havia uma coluna de homens, movendo-se em unidade, no próximo, havia duas vezes mais corpos, alguns deles cobertos de pêlo cinza ou ocre, todos lutando, se esquivando, pulando.
Uma espada, curta e curva, brilhou. Um homem gritou. Adrenalina e calor da batalha dominavam o ar.
Varzil, de pé atrás dos outros homens, não podia ver claramente a luta, além da confusão. A tocha, chutada para o lado, duraria apenas alguns momentos. Não sabia o quanto os homens-gatos podiam ver na escuridão total, só sabia que ele não podia.
A luta surgia do outro lado do túnel. Encostado contra a parede, Varzil olhou para a tocha no chão. Sem pensar, ele tentou pegá-la. Seus dedos se curvaram ao redor da base, as tiras amarradas de madeira resinosa.
À luz da chama, o rosto de um homem-gato apareceu. Seus olhos se encontraram, verde-dourado com as pupilas estreitas dilatadas, logo voltando ao normal. Grandes orelhas curvas com tufos negros erguidas, depois se nivelando ao pescoço curto.
Varzil sentiu um emaranhado de emoções... raiva... desespero... ódio, profundo e indizível.
O homem-gato rodopiou indistinto... pêlo cinza cruzado por tiras de couro, garras, espada curva e curta, sangue escorrendo pela coxa musculosa. Outro grito atravessou o ar.
Ao longo das paredes do túnel, sombras surgiam e sumiam. Um dos homens estava ferido, mãos apertavam as costelas de um lado. Sangue tão escuro que parecia negro fluía dos dedos do homem. Estava de costas para uma parede, pés apoiados e espada na mão livre. Enquanto Varzil observava, os joelhos do homem se dobraram e ele começou a afundar.
- Depois deles! - Eiric gritou. O homem ferido levantou-se pesadamente.
Eles desceram rapidamente pelo túnel. Varzil ergueu a tocha, correndo tão rápido quanto podia, e tentou manter o passo. O chão se inclinou e tornou-se rochoso. Uns poucos momentos depois, a luz ondulante da tocha tocou uma coisa peluda. Olhos vermelhos brilharam enquanto o não-humano olhava para trás.
Alguém atrás de Varzil berrou, - Peguem eles!
Em um instante, Eiric tinha o homem-gato ao alcance da espada. Ele golpeou, e o homem-gato rolou, tremendo.
Varzil, levado pelos homens atrás dele, passou correndo pelo homem-gato caído. O branco do pêlo de sua barriga brilhava na luz. Estava desarmado, a bainha de couro pendurada na faixa de seu ombro estava vazia. O aroma de sangue fresco invadiu o ar. Ele não tinha idéia da gravidade do ferimento da criatura, ou se ele acharia o caminho de volta para seu próprio povo se sobrevivesse.
Eles continuaram, se arrastando sobre estranhas formações rochosas, tropeçando, erguendo-se novamente. O túnel virou de repente para a esquerda e depois começou a subir. Varzil lutou para continuar com a louca perseguição. Não conseguia tirar o cheiro do sangue do homem-gato de seus pulmões.
Harald...
continua...
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