quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A Forja de Zandru - trecho 33

Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross


Tradução: Gisele Conti

...
Todos trabalhavam em Arilinn, não apenas estudando e com o laran, no trabalho físico de manutenção da Torre. Lunilla era uma organizadora autoritária, portanto em uma semana após a chegada de Varzil, ele já fazia turnos esfregando potes, lavando o chão, descascando cebolas, levando lençóis para lavar na cidade, e outras tarefas.
- Os kyrri são úteis à sua maneira, - ela disse, antecipando objeções que ouvira por uma centena de vezes, - mas não pensam como nós humanos. Aprendemos a nunca deixá-los próximos a um prato sujo ou uma cesta de maçãs.
Em uma manhã congelante após um mês de sua chegada em Arilinn, Varzil saiu com Carolin, Eduin, Cerriana, e a jovem Valentina, a garota com os cachos, para apanhar maçãs. Um pequeno pomar da fruta verde, perfeita para tortas e caldas, tinha sido doado para a Torre por um grato comerciante cuja esposa e filho haviam sido salvos no parto pelos monitores da Torre.
Era uma alegre caravana com Carolin montado em seu belo cavalo, Eduin em uma mula, e o resto trotando em emplumados pôneis de carga. Varzil teve que cruzar suas pernas sobre a nuca do animal devido às enormes cestas de vime. Ele balançava ao longo da estrada, seu traseiro ficando cada vez mais dolorido.
No momento em que os jovens chegavam ao pomar, o sol já havia derretido o gelo, embora as sombras ainda brilhassem em branco. O pomar se localizava nas encostas mais baixas no oeste dos Picos Gêmeos. A maioria das árvores era velha, deformadas por décadas de descuido. Varzil percebeu que alguém com mais entusiasmo do que habilidade as havia podado. Pesados ramos se esticavam em um ritmo desequilibrado, dando às árvores a aparência de dançarinos em um alegre festejo de Solstício de Verão. Os ramos se inclinavam sobre as brilhantes frutas de cor esmeralda.
Eles amarraram o cavalo e a mula, deixando os chervines pastarem. Eduin e Cerriana, que trabalharam naquele pomar em estações passadas, retiraram as escadas de madeira e aventais do pequeno abrigo. Em seu enorme avental de lona, Valentina parecia uma boneca vestida de marinheiro.
Cerriana não gostava muito de altura, portanto ela e Valentina pegaram os galhos mais baixos, aqueles mais fáceis de serem alcançados. Eduin e Carolin começaram com a árvore maior, uma das últimas do pomar. Em poucos minutos, dispensaram a escada, empoleirando-se nos ramos torcidos.
Varzil posicionou sua escada com seu cuidado usual, estudando os galhos. Macieiras não eram flexíveis como outras árvores. Aqueles galhos, carregados como estavam, podiam quebrar ao mínimo vento. Enquanto subia, a árvore rachou sob seu peso.
Ele começou a colher, jogando as maçãs nos bolsos de seu avental. O aroma da fruta preencheu sua cabeça, doce como tardes de verão. Ele mordeu uma. A casca era firme, a polpa viçosa, o sumo um turbilhão de azedume adocicado.
Valentina, a mais nova, começou uma canção com sua suave voz de criança, e Cerriana a acompanhou. Eduin cantava em um tenor surpreendentemente bom, assim como Carolin. Varzil, sem voz para cantor, estava contente de simplesmente ouvir. Manteve seus olhos nas maçãs e sua mente a julgar quanto peso mais cada galho podia agüentar.
Crack! Crash! ressoou através do pomar.
Bang!
Varzil agarrou-se no galho mais próximo enquanto a cadeira despencava sob ele. Envolveu suas pernas ao redor do galho, enquanto a árvore cedia sob seu peso.
- Carlo! - Cerriana gritou.
Varzil, pendurado onde estava, não podia ver exatamente o que tinha acontecido, Cerriana e Valentina correram para a outra árvore.
Varzil escorregou até que conseguisse apoiar o pé no galho mais baixo e de lá, caiu no chão. Por algum milagre, conseguiu cair sobre os dois pés.
Agora conseguia ver bem a árvore onde Eduin e Carolin estavam colhendo. Eduin ainda estava no topo de sua escada. Suas finas feições estavam tesas e pálidas, seus olhos azuis brilhavam com uma expressão indescritível. Um enorme galho havia quebrado e desabado no chão.
Carolin estava imóvel sob a parte mais grossa do tronco.

continua...

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