terça-feira, 13 de março de 2012

A Forja de Zandru - trecho 37

Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross

Tradução: Gisele Conti

9



Neve cobria as torres e pátios de Arilinn quando Varzil ocupou seu lugar como membro de um círculo ativo pela primeira vez. Normalmente, isso requereria anos de treinamento, mas Varzil mostrara atitude e havia necessidade de que seu progresso fosse acelerado. Naquela noite, ele se juntara a Fidelis e Cerriana no processo de cura com laran.
Uma grande quantidade de famílias, desabrigadas e desesperadas após as últimas disputas entre Alton e Esperanza, tentaram cultivar a área de Drycreek. Essas fronteiras recortadas, adjacentes aos reinos de Hastur, tinham sido contaminadas com pó de água-de-osso há uma geração e foram abandonadas desde então. Os fazendeiros pensaram ter se passado tempo o bastante para que a terra estivesse segura, mas após alguns meses, seus filhos adoeceram. Como o Solstício de Inverno se aproximava, eles foram até Arilinn, famintos e sofrendo de queimaduras de frio e de envenenamento com o pó de água-de-osso. Os monitores da Torre separaram os menos aflitos, mas precisaria dos esforços conjuntos de dois dos mais fortes curandeiros, junto com um círculo completo, para evitar o pior. Fidelis recomendou que Varzil fosse incluso, embora ainda fosse jovem.
Varzil chegou cedo à câmara designada para se preparar e acalmar seu excitamento crescente diante dessa nova responsabilidade. Auster colocara uma grande fé nele e ele queria provar que valia a pena.
A maioria dos monitores eram curandeiros, hábeis em usar a energia do próprio corpo na reparação e reconstrução. Alguns dos melhores eram mulheres, embora ninguém oferecesse a Varzil qualquer explicação do motivo. Todos em Arilinn tinham treinamento básico em monitoramento e todos os novatos estudaram os padrões de energia do corpo humano.
Varzil prendeu a respiração logo na entrada. Uma fileira de camas de campanha havia sido armada em volta das brasas de carvão, banhada pelo seu calor aconchegante. Um dos pacientes, uma criança envolta em um grosso cobertor branco, tossia pesadamente. Ele piscou, incerto se estaria vendo uma fina névoa verde no ar, ou se apenas sentira a doença das crianças. Algo... um cheiro, um sabor parecido com carne estragada... alcançou o fundo de sua garganta. Os finos cabelos de sua nuca se arrepiaram.
Fidelis entrou na sala, tocando com as pontas dos dedos as costas da mão de Varzil ao passar e então se dirigindo à primeira cama. Como sempre, vestia o largo manto branco preso por um cinturão de um monitor. Profundas linhas demarcavam seus olhos e boca.
O monitor inclinou-se diante da garotinha que estava ali, seu cabelo espalhado sobre o travesseiro. - Venha aqui, Varzil. Olhe isso.
Engolindo em seco, Varzil inclinou-se diante da criança, notando as pálidas faces, as traçar das veias azuis sob a pele, as manchas escuras ao redor dos olhos, os lábios rachados pelo frio. A garota mexeu-se e abriu os olhos. Parecia ter uns quatro anos. Algo no formato dos olhos lhe lembrava Dyannis, sua irmã mais nova.
Num impulso, ele ajoelhou-se ao lado da cama e pegou sua mão. Dedos, tão esguios quanto os de uma fada, apertaram os seus. Com sua mente, seguiu os canais de energônios de seu corpo, aprofundando-se pelas camadas de tecido, as passagens vermelhas congestionadas, as células rompidas. Ele não tinha treinamento para entender completamente o que via, o nível do estrago e a reação enquanto o corpo dela tentava se defender.

...continua

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