Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti
...
Por aqui... gentil e firme como uma mão guia, Fidelis direcionou sua consciência ao fundo dos ossos da garota, onde células de micróbios revestiam as cavidades, morrendo. Aqui e ali, por todo o lado, uma pequena partícula pulsava com energia sobrenatural. Varzil sentiu cada local como um ponto fosforescente, verde como miasma pela sala. A garota podia sobreviver por um tempo, mas as profundas mudanças em sua medula eventualmente a matariam. Mesmo agora, ele podia sentir sua morte. Olhando para Fidelis, tentou colocar em palavras o que viu.
Fidelis acenou concordando. É assim que acontece com pó de água-de-osso. Alguns morrem em dias após a exposição, seus nervos se queimam. Outros sobrevivem, apenas para perecer dez dias depois vomitando e tossindo. Mas estes, especialmente os bem jovens... parecem se curar, enchem nossos corações de esperança, mas sua morte é mais lenta e trágica.
- O que devemos fazer? Como podemos salvá-la? - Varzil forçou as palavras pela garganta repentinamente seca.
Fidelis virou sua cabeça para o lado, como se pensasse. Se não for tarde demais, acredito que seja possível, mesmo que hoje ninguém tenha muita experiência nesse novo tratamento. As técnicas da Era do Caos não existem mais. Aqueles afetados normalmente são considerados perdidos, mesmo que ainda possam andar. Ouvi falar que alguns homens que sobreviveram à tragédia de Drycreek pareciam ilesos, mas todos morreram após uma década de diarréia ou tumores. Como nenhum deles procurou ajuda em uma Torre, não houve nada que pudéssemos fazer. Talvez se soubéssemos antes...
Se tivéssemos considerado nossa responsabilidade descobrir, disse Auster.
- Quem podia saber? - Auster falou em voz alta enquanto entrava na sala. Seus olhos refletiam a luz dos globos nas paredes como se estivessem em chamas. Sua aparência física chamava a atenção, com seus ombros pesados, barba rústica e olhos intensos, mas era seu manto de energia que preenchia a sala.
Auster foi até a cama da garota. - Pó de água-de-osso é uma arma de guerra. O povo não tem o juízo para evitar as terras proscritas, no entanto devemos tentar salvá-los de sua própria insensatez.
Varzil não notou nenhuma expressão na voz do Guardião. Auster estava dizendo que o uso da água-de-osso era justificado e aceitável, que era culpa das vítimas que mesmo sem querer tinham exposto suas próprias famílias? Varzil vira os rostos dos parentes, a culpa corroendo por trás de seus olhos. Eles amavam suas crianças do mesmo modo como seu pai o amava. E estavam desesperados, desabrigados…
Juntos, Fidelis e Auster examinaram cada paciente. A maior parte foi feita mentalmente, mas ocasionalmente Auster perguntava sobre algum detalhe médico. Cerriana juntou-se a eles, ouvindo silenciosamente. Enquanto isso, Lerrys e dois outros chegaram e sentaram-se nos bancos.
Por último chegou Eduin, que foi diretamente ao seu lugar sem olhar para Varzil. Eles trocaram apenas algumas palavras desde o incidente no pomar de maçãs, pois normalmente trabalhavam e estudavam separadamente. Varzil não notou nenhum tom de inimizade no outro jovem, apenas uma atitude de séria concentração. Talvez Eduin tenha pensado melhor em sua explosão, e percebera que Varzil não era nenhuma ameaça à sua posição na Torre ou sua amizade com Carolin. Varzil resolveu seguir com a tarefa da noite com a mesma imparcialidade.
Auster não deixava inteiramente cada paciente enquanto seguia para o próximo. Em vez disso, parecia carregar cada um com ele, tecendo essa parte deles em um todo, como uma rede de pescador. Ele fazia isso com um toque tão leve e preciso que Varzil sentia seu próprio coração bater mais forte, sua consciência elevada. Mesmo as luzes pareciam brilhar mais forte.
Enquanto Auster passava pela fileira de camas e cada paciente era ouvido, o círculo se reunia. Já estavam juntos em uma unidade mental. Fidelis sentou-se em seu banco favorito, sem forro e Varzil ao seu lado, de frente a Auster.
Varzil fechou os olhos e começou os exercícios de respiração que iria sintonizá-lo aos ritmos de seu próprio corpo. Começou a sentir a sensação que, ele aprendera, denotava uma mente adequadamente receptiva.
...continua
Nenhum comentário:
Postar um comentário