quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Forja de Zandru - trecho 25

Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti


...

Uma agitação. Não, não pode ser! É a febre que está colocando palavras em minha mente. Estou ouvindo vozes daqueles que amo, nada mais.
- Mestre Varzil? - Eiric perguntou.
Varzil pediu que fizesse silêncio. Conhecia vagamente os homens que olhavam para ele. Eles podiam ver sua face inexpressiva, sua postura de intensa atenção.
O que ele ouve, que nenhum de nós consegue? Seus pensamentos, como insetos perturbadores, zuniam em seus ouvidos.
Impaciente, ele estendeu as rédeas de seu cavalo para Eiric e, gesticulando para que os outros o seguissem, continuou em frente. Estiveram viajando nos vestígios de uma trilha, quase larga o bastante para que um cavalo os levasse. Ele a seguiu como um cão de caça seguindo seu olfato.
Harald! Harald!
Ah, é um sonho. Quem me chama na Escuridão, onde não posso ouvir? Armand se foi. Rezo para que os homens-gato não o encontrem.
Sou eu, Varzil... onde você está?
Não, Varzil está em Arilinn. Como ele pode me alcançar aqui? Fora espíritos! Não estou pronto para me entregar a vocês! A escuridão está girando. Vejo luzes… são homens-gato ou mais um daqueles vaga-lumes? Será que Aldones, Senhor da Luz, veio para me levar deste lugar?
Harald!
Ainda não, Ó Senhor, a terra cinzenta dos mortos não! Não posso abandonar meu pai assim... um pouco mais de tempo, lhe imploro, apenas um pouco mais...
Harald! Onde você está?
Por que, você sabe onde estou. Eu sei de tudo. Estou no lugar em que me colocou, na escuridão... E agora você me envia essas luzes dançantes. Ah, como são belas, como pedras preciosas. Já estou morto, para está-las vendo? Mas estou com tanto frio, tanto frio. Devo estar no inferno congelado de Zandru.
Varzil tentou várias outras vezes, mas não conseguiu penetrar os delírios de seu irmão. Temia que a infecção do ferimento de Harald tivesse espalhado para seu cérebro.
- Posso sentir seus pensamentos, - Varzil disse a Eiric, - mas ele pensa que eu sou... Não consegue dizer onde está.
- O que faremos então? Você diz que ele ainda está vivo, mas mergulhado em um sonho febril. Se for assim, ele não pode se ajudar.
Senhor da Luz, o que eu faço agora? Devia continuar e rezar para que algo mais o alcançasse. Talvez seus sentidos se aguçassem quando estivessem dentro das cavernas, onde a escuridão poderia ser de algum modo semelhante àquela que cercava Harald.
Não sabia se alguma daquelas cavernas era favorita de Harald, mas havia uma onde ele próprio sempre se sentira seguro. Virando-se para o oeste, havia uma saliência mais larga, perfeita para piqueniques ao sol. Um túnel estreito dava para a face do penhasco, forçando caçadores a entrarem um por vez. Harald teria escolhido um lugar defensível, se tivesse escolha.
À luz do amanhecer, a entrada da caverna o enganava. Depois de várias tentativas, contudo, ele conseguiu localizá-la. Tinham que deixar os cavalos no fundo e subir a saliência a pé. Como era um garoto, subiu-a com facilidade. Um homem carregando uma espada, ou talvez ferido, teria mais dificuldade.
Eiric parou para acender uma das tochas, apesar do risco de se fazer visível para quaisquer homens-gato que espreitassem. Insistiu em ir primeiro, pois se tivesse qualquer problema, disse a Varzil, seria sua espada que defenderia o jovem mestre. Devagar, eles atravessaram um a um o túnel estreito. As paredes cheiravam a umidade e a luz iluminava pequenos córregos de condensação. No espaço apertado, a respiração dos homens tornava-se sussurros. Eles seguiram adiante, os sons de seus passos abafados. Uma ou duas vezes, Varzil pensou ter visto marcas de uma bota se arrastando.
Depois de uma curta distância, o túnel se abriu para o coração de uma montanha. A escuridão pressionava Varzil, engolindo o som de seu coração.

continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário