Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti
...
Em um instante, ele sentiu a mente de seu irmão, muito perto agora. Podia ver os cruzamentos adiante, uma passagem tão estreita e restrita que dificilmente seria chamada de caverna. Era ali onde as duas passagens se uniam novamente. Gotas escuras escorriam pelo chão de areia grossa.
Eiric correu para a abertura, espada em posição de ataque. Seu corpo bloqueava o que havia adiante, mas Varzil sentiu sua onda de assombro. Ele berrou para que os outros homens voltassem. Varzil ergueu a tocha. Sua luz preencheu o pequeno espaço.
Harald... e um homem-gato ferido com as garras presas em seu cabelo, sua cabeça inclinada para trás em um ângulo horrendo, uma lâmina curva em sua garganta.
Acotovelando-se atrás deles, três homens-gato agarravam-se uns aos outros. Suas bocas abertas revelavam as presas afiadas como agulhas. Varzil não pôde ler suas expressões. Nenhum humano podia.
Terror... terror e desespero, pulsavam indizíveis através de sua mente.
Eiric deu um passo adiante, sua espada ainda erguida. O homem-gato reagiu instantaneamente, puxando a cabeça de Harald ainda mais para trás. A lâmina curva se afundava em sua pele, lançando um fio de sangue ao longo do pescoço exposto. Sua face escureceu. Ele tentou falar. O homem-gato o silenciou com um chiado de aviso e um aperto da lâmina.
Estranhas noções surgiram sob as emoções do homem-gato, uma vaga sensação de código de honra que Varzil não podia entender.
Uma coisa era clara. Os homens-gato estavam presos ali, sua fuga bloqueada. Eles dariam seu último passo... sobre o corpo sem vida de Harald.
Varzil colocou uma mão no ombro de Eiric, bem gentilmente para não assustá-lo. - Abaixe sua espada.
- Está louco, garoto? Como vamos impedi-los...
- Eiric, abaixe sua espada. - Varzil falou com uma certeza calma e instintiva. Os olhos do homem mais velho brilharam enquanto baixava a ponta da lâmina.
Varzil passou por Eiric, tateando ao longo da superfície áspera da rocha. Atrás dele, os outros homens murmuraram, meio em protesto, meio em pavor.
... ele sabe o que está fazendo?...
... correndo um risco terrível... matará Lorde Harald e metade de nós...
... nenhum de nós sairá daqui vivo...
E uma única palavra que ecoava na mente de cada homem, Laranzu!
Do homem-gato vinha uma pulsação de medo-ódio-fome e a dança contorcida das formas-pensamento. Elas cheiravam a um emaranhado de ferro, embora Varzil não soubesse como os homens-gato conheciam aquele precioso mineral. Darkover era pobre em metais, e a espada que o homem-gato ainda segurava na garganta de Harald vinha do comércio com os habitantes das Cidades Secas de Shainsa ou Ardcarran. - Talvez tudo que há na mente da criatura é tão precioso para ele quanto o ferro.
Varzil aproximou-se devagar, mãos abaixadas e afastadas de seu corpo. Ele deliberadamente parou a uma distância que o homem-gato pudesse, com sua velocidade superior, soltar seu prisioneiro e golpear sua própria garganta se quisesse.
Na fraca luz laranja, as pupilas se dilataram um pouco mais, embora o homem-gato não desce nenhum outro sinal de reconhecimento. Varzil havia se colocado em risco, e também dentro do alcance do homem-gato. Desejou que pudesse ler alguma expressão no corpo esbelto e musculoso, os olhos como os de um gato. Reprimiu um impulso de procurar por um contato físico, como se ele afundasse seus dedos no pêlo cinza, pudesse também ligar-se com a mente da criatura. Seu avanço podia parecer uma tentativa de ataque para o homem-gato. Então não ousou arriscar.
A imagem do contato dominou seus pensamentos. Em um instante, ele viu a mente do homem-gato como uma radiante gaiola metálica enfeitada com jóias e símbolos de um desenho incompreensível. Havia beleza e significado no desenho, mas sendo muito distante de sua experiência humana, ele não podia adivinhar o que era.
Fome e medo... Isso ele conhecia.
continua...
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