sábado, 4 de agosto de 2012

A Forja de Zandru - trecho 51

...

O lago surgiu à vista, como Carolin o recordava. A certa distância, parecia uma neblina que nunca se dissipava ou se movia, apesar dos ventos e clareza do céu. O sol estava subindo agora e brilhava na superfície mística. No lado oposto, a Torre se erguia, uma esguia estrutura de pedra pálida e translúcida tão estimada pelo Comyn.
Eles pararam seus cavalos perto da margem, e ouviu-se o suave bater das ondas que transbordavam nas encostas. Varzil desmontou para pegar um punhado do nebuloso material.
- Não é nem água, nem nuvem, - Carolin disse, repetindo o que seus tutores disseram. Ele escorregou da sela. - Você pode atravessar até o fundo. Orain e eu tentamos uma vez... o que, seis anos atrás?
Orain concordou. Ele permaneceu em seu cavalo, olhos esquadrinhando o horizonte. Aquilo era bem coisa de Orain, manter-se à parte, observador. De repente, Carolin ressentiu-se à lembrança do perigo.
- Vamos. - Gesticulando para Varzil, Carolin entrou no lago.
Varzil assustou-se enquanto a água-nuvem ondulava contra suas botas, mais como orvalho do que líquido. Ele recuou, estremecendo. Alarmado, Carolin virou-se. - O que foi?
- Não sente isso? - Varzil perguntou. - Este lugar... do que disse que este lago era feito?
- Não sabemos. O evento é chamado de Cataclismo. Deve ter havido registros antes, mas se ainda existem, estão perdidos. - E é algo bom, também, ou alguém certamente teria ressuscitado qualquer arma terrível que tenha transformado um lago comum neste lugar fantasmagórico.
Varzil balançou os ombros e as águas ao seu redor vibraram com o movimento. - Foi embora...
- O quê?
- Por um momento, eu pensei… Você sabe que objetos físicos podem reter impressões de laran, especialmente de fortes emoções. Bem, - com um brilhante sorriso, - nós chegamos até aqui. Vamos continuar, assim poderei contar ao povo em Arilinn sobre o peixe-pássaro do qual cantam os menestréis.
Eles continuaram. Carolin prendeu a respiração e afundou a cabeça sob a superfície. O sol, alto agora, enchia as águas com seu brilho. Contra todos seus instintos, ele abriu sua boca e inalou. Era como respirar uma grossa névoa.
As rochas da margem deram lugar às encostas de areia em declive. A atmosfera ficava mais densa. Carolin forçou-se a respirar regularmente e a sensação de sufocamento suavizou.
Abaixo, verde brilhante e objetos laranja tremeluziam com as correntes de nuvem. Carolin tocou a manga de Varzil e apontou.
- Peixe-pássaro. - A água mística abafou suas palavras.
Próximo ao fundo plano, longos arbustos verdes pairavam em uma dança ondulante e rítmica, alguns ultrapassavam a altura de um homem. Carolin tropeçou em uma pedra sob a superfície de areia. A luz era mais fraca ali. As brilhantes criaturas coloridas nadavam ou flutuavam em cardumes, subindo e descendo em uníssono. Suas peles cintilavam quando um raio de sol as tocava.
Varzil estendeu suas mãos para o peixe-pássaro, chamando-o gentilmente com seu laran. Diziam que os Ridenows tinham uma particular empatia com os animais e devia mesmo ser assim, pois eles o rodearam, os vermelhos pequeninos passando entre seus dedos estendidos como fitas vivas. O prazer de Varzil ondulou pelas águas, e através de seu leve contato, Carolin sentiu alegrar seu próprio coração.
Carolin ficaria feliz em voltar, mas então Varzil tomou a liderança, levando-o ainda mais para o fundo. O peixe-pássaro os seguiu por um tempo, pulando para beliscar seus cabelos ou olhar com curiosidade, sem piscar. As águas escureceram enquanto a luz que penetrava em suas profundezas diminuía. Bem além do limite da visão, fracas luzes tremeluziam.
Mais peixes-pássaro? Carolin se perguntou, ou algo ainda mais estranho? Sentiu um calafrio na espinha e a sensação de liberdade diminuiu. Sombras o pressionavam, e as correntes criavam inscontantes figuras entre os arbustos.
Ele procurou por Varzil, para puxá-lo de volta em direção à luz, mas seu amigo balançou a cabeça e continuou.
O que ele iria fazer, deixá-lo ali? Varzil não conhecia nada dos perigos do lago de Hali; a necessidade de continuar respirando mesmo quando não sentia necessidade, os sinais de fadiga e confusão mental.
Só um pouco mais, e depois iremos embora, mesmo que eu tenha que levá-lo à força!
Varzil parou, tão subitamente que Carolin chocou-se contra ele. Varzil apontou, criando ondas de nuvem-água com o movimento. Adiante, oculto pelas correntes de névoa, havia uma enorme forma, muito maior do que um homem. Carolin não podia saber se aquilo realmente existia ou se era algum truque da luz e da névoa turbulenta.
Enquanto se aproximavam, contudo, ele viu a pedra sólida, uma única coluna caída. Algas e areia cobriam sua superfície. Não podia notar sua cor original. Mesmo gastos pelo tempo e pelas ondas de nuvens-água, os contornos pareciam suaves, como se tivessem sido trabalhados por tecnologia de matriz. Havia marcações, mas estavam tão escurecidas que não conseguiu decifrá-las.
De algum modo, ele não queria tocá-la.
Varzil, com aquele seu jeito destemido, foi direto para a coluna caída. Ela chegava na altura de seus joelhos. Com um braço esticado para se equilibrar, ele estendeu sua outra mão e tocou a pedra com sua palma.
E gritou.


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