quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A Forja de Zandru - trecho 52


13



Um grito ressoou através da mente de Varzil, abafando qualquer som e imagem. Vibrou em seus nervos, preencheu o vazio de seus ossos, estremeceu por seu sangue. As correntes negras de nuvem-água se desvaneceram. Tudo que podia ver era a névoa branca. Em instantes, ele perdeu toda a consciência de seu corpo e ao seu redor. Nem ao menos sentia seu coração batendo, não lembrava seu nome. Como uma partícula congelada em um vasto e nebuloso mar, ele vagou. Os últimos ecos do grito morreram em silêncio.
Enquanto seus olhos clareavam, formas surgiram à sua frente. À princípio eram como traços prateados contra a brancura pontilhada. Gradualmente, tomaram forma e substância. Seus contornos permaneceram borrados como se estivessem sendo vistas por lentes rachadas.
Ele olhou por cima de uma Torre de uma altura que nunca vira antes. A pedra translúcida brilhava como se tivesse cheia de luz, mas a cor mudara sutilmente para um cinza angustiante.
Então, estranhamente como nos sonhos, Varzil desceu. Ele passou através das paredes de pedra como se fosse um fantasma. Radiância preencheu o espaço no qual ele se encontrava. Aquilo queimava ao longo de seu corpo espectral.
Laran. O ar estremeceu com uma intensidade nunca sentida, nem em seu trabalho em Arilinn, nem mesmo quando era uma criança recém acordada para seus poderes, ouvindo o Ya-men murmurar suas músicas sob as quatro luas.
Varzil traçou a origem do laran. Estava dentro da Torre agora, olhando de cima para uma sala circular. Parecia sutilmente estranho, fora de foco. A sala era grande, julgando pelas pessoas reunidas ali. Sentadas em seus bancos, pareciam-se muito com um círculo de trabalho. Uma mesa ocupava o centro da sala, dominada por uma enorme matriz artificial.
A matriz era octagonal, duas vezes o comprimento de um braço humano, e disposta em camadas de forma a ter metade disto em altura. Pontos de luz azul piscavam como um entrelaçado de teias de aranha. A mesa na qual se encontrava brilhava com pequenos pontos de iridescência, os quais ressoavam com a força da matriz.
Varzil nunca vira uma matriz artificial daquele tamanho e força antes. Em Arilinn, círculos trabalhavam com as do sexto até o nono nível. Uma matriz de sexto nível requeria seis trabalhadores treinados mais com um Guardião para operá-la com segurança, e os círculos conservadores de Arilinn raramente excediam esse número. Teoricamente, era possível construir matrizes de qualquer tipo... nono, décimo, até mais... mas quanto maior o nível, maior o potencial para o desastre. Um único elo fraco no círculo, um coração titubeante ou lapso de concentração, poderia desencadear uma força incontrolável. Nem Auster, nem qualquer outro Guardião ético aprovaria o risco.
Pelas energias que surgiam através dela, aquela deveria ser uma matriz de vigésimo nível, ou possivelmente maior. Varzil contou quinze pessoas na sala, a maioria vestida em mantos cinza opaco, mais um único homem de manto vermelho que era reservado, por tempos imemoráveis, para Guardiães.
Aonde na face de Darkover poderia existir tal coisa? Como permaneceu escondida?
E o que aquele círculo anônimo pretendia fazer com ela?
Força vibrou através do contato, raios de luz que permaneciam em sua visão como vapores fuosforescentes. Tornou-se incômodo olhar para eles. Uma repulsa visceral àquela coisa cresceu dentro dele.
Varzil não conseguia entender sua reação, ao menos que fosse algum efeito da estranha condição em que se encontrava. Já encontrara força de laran antes... nas matrizes de Arilinn, nos seus círculos, dentro de si mesmo. Ele respeitava aquilo, mas não temia.
Subitamente, percebeu o que tornava aquela matriz diferente. Todos os outros dispositivos e usos naturais de laran que conhecera eram, em sua própria essência, humanos. Pedras-da-estrela trabalhadas pela concentração e foco natural de talento mental. Não eram geradas por si só, nem sugavam força de qualquer outra fonte. Energia de laran, criada por leronyn individuais ou por círculos trabalhando em conjunto, podia ser armazenada em baterias e outros aparatos construídos à partir de pedras-da-estrela menores e individuais.
Mas aquela... de algum modo, à despeito de toda a sua experiência e tudo que lhe havia sido ensinado, era alimentada por alguma outra fonte. A origem da força não era humana, isso ele tinha certeza. Não tinha certeza se era viva. Isso o assustava e fascinava ao mesmo tempo.
Embora fosse a última coisa que quisesse fazer, ele forçou-se a se abrir à enorme matriz. Impressões sensoriais invadiram sua mente, muito intensas e breves para se identificar. Ele sentiu o odor de ozônio de um relâmpago, de água, de cinzas, e ainda assim nada disso era concreto.
- Va’acqualle... espiões! ´imyn!...
- ...kiarren... acabe logo com isso...

Continua...

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