Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti
Tradução: Gisele Conti
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Varzil viajara por todos os extensos quilômetros de sua casa até Arilinn, junto com seu pai e parentes, para ser formalmente apresentado ao Conselho Comyn. Seu irmão mais velho, Harald, que era herdeiro de Água Doce, passara por uma inspeção similar há uns três anos atrás, mas Varzil era então muito jovem para vir com ele. Seu atual reconhecimento era claramente uma manobra política para fortalecer a posição de Ridenow. Muitas das outras grandes Casas ainda os consideravam aproveitadores, pouco mais civilizados do que seus ancestrais das Cidades Secas. Humilhava-os conceder a qualquer Ridenow o respeito de um verdadeiro igual.
A paz que Allart Hastur havia forjado entre seu próprio reino e aqueles de Ridenow não era longa e nem profunda para apagar a lembrança do sangrento conflito que viera antes. Dom Felix foi escrupulosamente educado com os Hasturs, mas Varzil sentiu a dúvida neles... seu medo.
Se houvesse qualquer outra maneira...
Não teria que se arrastar desde a Cidade Oculta a esta hora infame, para congelar-se esperando que alguém de dentro da Torre o deixasse entrar. Esperava que fosse logo, antes que sua ausência fosse descoberta e armassem uma busca. A sessão do Conselho já tinha acabado faz tempo, com poucos assuntos para se conduzir. Dom Felix não iria delongar, não com homens-gato espreitando nas colinas próximas aos pastos de ovelhas.
Varzil apertou mais seu manto e firmou o maxilar para impedi-lo de bater. O belo vestuário era apenas para a corte e não para proteger-se contra os elementos.
Graças a Aldones, tinha sido uma noite clara.
Durante as longas horas, Varzil sentiu o turbilhão e a dança das forças psíquicas atrás das paredes da Torre. O forte brilho de energia do Véu ultrapassava cada nervo, deixando-o sensível ao menor sussurro telepático.
A maior parte do trabalho da Torre era feito durante as horas em que homens comuns dormiam, para minimizar a estática psíquica de tantas mentes destreinadas. A esta curta distância da cidade, mesmo um pensamento ocasional desgarrado ou onda de emoção, dificilmente considerada laran, acumulava-se virando interferência de baixo grau, ou algo assim que lhe haviam dito. Por esta razão, Torres como Hali e a agora arruinada Tramontana ficavam distantes das outras habitações humanas. Nas longas horas quietas da escuridão, trabalhadores Dotados mandavam mensagens que cruzavam centenas de quilômetros através das transmissões, e carregavam imensas baterias de laran, usadas para vários propósitos, incluindo impulsionar carros-aéreos, iluminar os palácios dos Reis e minerar metais preciosos, ou até mesmo executar a delicada cura de mentes e corpos.
Varzil cochilou e acordou uma dúzia de vezes naquela noite, cada vez ressonando em um padrão diferente. Sempre que acordava, parecia que seus sentidos tornavam-se mais aguçados. Com sua mente, ele sentia cores e música que nunca soubera existir. Ouvia vozes, uma palavra aqui e ali, frases luzindo com significados secretos que o deixava ansioso por mais. O Véu furta-cor não mais brilhava à distância, mas reverberava através do tutano de seus ossos.
Um movimento chamou a atenção de Varzil, uma sombra entre as sombras. Esguia, de pelo cinza, curvada como um homenzinho sábio, uma figura passou através do Véu. A figura parou, uma cesta vazia entre seus dedos, e olhou para ele.
Varzil endireitou-se, apertando ainda mais o manto sobre seus ombros. Reconheceu a criatura como sendo um kyrri, embora Serrais, lar dos Ridenow, tivesse poucos deles como servos. Dizia-se que eram altamente telepáticos, mas perigosos de se aproximar. Seu pai, preparando-o para a visita a Arilinn, avisou-o sobre seus campos elétricos protetores. Entretanto, ele estendeu uma mão.
- Está tudo bem, - ele murmurou. - Não vou machucá-lo.
Algo friccionou atrás do crânio de Varzil, ao mesmo tempo macio e áspero, como se areia fosse esfregada dentro de sua pele. Mas não, era dentro de sua cabeça. De repente, uma sensação de curiosidade tremeluziu através dele, e tão rapidamente se desvaneceu.
A criatura estava estudando-o. Será que queria algo? Ele não tinha comida... e então percebeu que pensava nele como um animal, em vez de um ser inteligente, mesmo que não-humano.
Sem um único som, o kyrri correu. Varzil observou enquanto cruzava o pátio externo e virava para a rua. Sentia-se como se tivesse sido testado em alguma misteriosa maneira, e não sabia se havia passado.
continua...
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