Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti
Tradução: Gisele Conti
...
Uma vez, quando escalava as colinas escarpadas próximas a Serrais à procura de plumas de águia, Varzil pisou em falso e caiu de uma áspera encosta. Rocha e céu giraram juntos enquanto pedras golpearam seu corpo em uma dúzia de lugares diferentes. Ele escorregou até parar e permaneceu lá por um longo tempo, ofegante e machucado, olhando para o céu sem nuvens com espanto por ainda estar vivo.
Sentia-se assim agora, embora seu corpo não estivesse ferido. Vagamente, ouviu a voz da mulher falando sobre o desjejum. Sentiu as mãos dela em seus ombros, guiando-o até uma cadeira ao lado do fogo.
- Doce Evanda, você está congelado! - ela exclamou. - Sem mencionar... - Varzil não pôde seguir suas próximas palavras, -... os canais de energônios... como se tivesse trabalhado duas noites inteiras sem uma pausa sequer!
No momento seguinte ele segurava uma caneca de jaco fumegante em suas mãos. Sentiu o calor através da cerâmica pesada com seu desenho detalhado, a suavidade da vitrificação. O jaco tinha sido adocicado com mel e misturado com alguma erva que ele não reconheceu. Engoliu-o obedientemente, embora queimasse sua língua. Só então ele percebeu o quanto estava tremendo.
- Aqui, tome isto, - a mulher disse, estendendo uma tigela cheia de algum tipo de mingau de noz com creme. - Consegue segurar a colher?
Os dedos de Varzil envolveram o cabo. Sua mão tremia, mas ele conseguiu pegar um punhado. O que quer que aconteça, não seria alimentado como um bebê.
O mingau parecia ser uma mistura de aveia, avelã, e maçãs secas, temperado com canela. Era delicioso, combinando a rusticidade do grão, o ruído das nozes, e a maciez da fruta.
A visão de Varzil voltou a focar e suas mãos ficaram firmes. Ele agradeceu a mulher, adicionando, - Está muito bom.
- Com certeza, - ela disse, novamente lhe lembrando de sua tia. - Coma tudo. Senhor da Luz, garoto, parece que não tinha uma refeição decente há uns dez dias!
Varzil abaixou sua colher. - Sou grato, vai domna, mas não vim aqui para pedir comida. - E devolveu-lhe a tigela.
- Não ouvirei essas bobagens cheias de orgulho, - ela retorquiu, devolvendo-a para ele. - Sou a mãe da casa para todos os novatos aqui e quando digo coma, eles comem. Mesmo os da realeza. Está claro?
Varzil não tomara mais do que duas ou três colheres quando a porta no lado oposto se abriu e um homem alto e robusto entrou na sala.
Prata e ferrugem se misturavam em sua barba e cabelo cuidadosamente aparados. Suas feições eram muito irregulares para serem convencionalmente belas, com suas grandes orelhas e boca arqueada. Olhos azuis e escuros como grafite chamaram a atenção de Varzil. Uma aura de poder de aço envolvia o homem como uma capa.
Mesmo assim ele vestia roupas comuns, confortáveis e quentes, uma veste de couro costurada com bordado brilhante sobre a túnica de linho com um cinto, calças soltas enfiadas em botas de cano alto. Uma corrente de metal cinza-escuro pendia em seu pescoço, desaparecendo sob sua camisa.
Dois outros homens entraram na sala pela porta do lado oposto. Um era o homem de manto branco que levara Varzil para dentro da Torre. O outro estava também de manto, mas de um verde profundo. Não havia dúvida na mente de Varzil sobre quem mantinha o poder ali.
Varzil se levantou e inclinou-se profundamente para o homem robusto.
Então é você o garoto de Ridenow que quer treinar na Torre Arilinn? A voz pairou como uma espada em uma bigorna. Nunca ninguém falara antes tão diretamente à mente de Coryn, ou com uma clareza tão cristalina. Mesmo a leronis da propriedade, que lhe dera o treinamento básico no uso de sua pedra-da-estrela, soara abafada, como se em outra sala, quando usara seu laran para falar com ele. Varzil percebeu que de todos os outros testes que encararia, este era o básico e mais crucial de todos. Ele inclinou-se novamente.
- Vai dom, sou eu.
- Sente-se, então, e deixe-nos conhecê-lo um pouco. Sabe quem sou eu?
- Senhor, você é Auster Syrtis, Guardião da Torre Arilinn.
- Um deles, de qualquer modo. - Um sorriso vacilou no canto da boca do homem. - O que o faz pensar que sou ele? Como pode ter certeza? - Com uma mão, gesticulou para suas vestimentas, como se para indicar a ausência do manto vermelho tradicional.
Ele pensa que sou algum cego-mental tolo? Varzil se perguntou. Sua indignação evaporou enquanto o homem jogava a cabeça para trás rindo.
continua...
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