Tradução: Gisele Conti
...
Na hora seguinte, Varzil sentou-se diante do fogo fragrante, respondendo às questões dos três homens. A mulher, cujo nome era Lunilla, alternava entre sentar-se calmamente em sua própria cadeira e oferecer jaco aos homens e comida a Varzil, em um cronograma próprio. Ninguém argumentou com ela.
Varzil mostrou-lhes a pedra-da-estrela que ganhara da leronis da propriedade, um cristal azul-claro do tamanho de uma unha do polegar. Como lhe haviam ensinado, ele a mantinha envolta em camadas de seda. Quando a retirou e segurou-a em seus dedos nus, as faixas brilhantes em seu centro tremeluziram para a vida. Os padrões apareceram quando olhou bem para dentro da pedra. Agora, com a longa exposição às energias psíquicas do Véu e do círculo, ele a sentia como uma coisa viva, respondendo ao seu toque. A pedra cantava para ele, dançava com ele.
Varzil respondeu as questões e executou alguns exercícios simples de laran muito parecidos com aqueles que a leronis de Ridenow o ensinara. Sem sua pedra-da-estrela, ele tinha muito pouca psicocinesia, embora se focalizasse, conseguia fazer uma pequena pluma tremer. Não teve dificuldades em ouvir questões em forma de pensamento, bem melhores do que ditas em voz alta. As mudanças de humor e emoção pareciam-lhe tão claras e distintas quanto notas musicais tocadas em instrumentos diferentes.
Enquanto o exame continuava, Varzil sentia uma tendência oculta sob as questões que soavam inocentes. Em uma ou duas ocasiões, ele pegou a sombra de um pensamento rapidamente escondido, e sabia que não tinha nada a ver com a qualidade de seu laran.
Continuamente, as questões rodeavam o assunto sobre como ele havia chegado ali, e se seu pai sabia de sua visita e lhe dera permissão. O Guardião nunca perguntou diretamente, embora a suspeita margeasse suas palavras. Talvez eles temessem que tivesse algum outro propósito... de penetrar em seu grupo, aprender seus segredos, ou de algum modo enfraquecê-los.
Mas certamente enxergariam a verdade em sua mente...
Ele percebeu tudo vagarosamente. Sim, tinham suspeitas, mas era por que achavam que ele estava mal e temiam que adoecesse com os rigores do treinamento. Como Varzil era um filho de Ridenow, haveria sérias repercussões se ele morresse. Sua família agiria em retaliação contra Hastur ou Astúrias, desestabilizando o equilíbrio de poder. Relações políticas continuavam precárias desde as últimas guerras. A própria Arilinn podia ser levada para dentro do conflito...
Não serei um peão nos jogos de nenhum lorde!
No meio de um pergunta do homem de manto verde, Varzil levantou-se e fez uma reverência.
- Vai dom’yn. - ele disse em um tom tão sério que o homem parou no meio da questão. - Fico feliz em responder quaisquer questões sobre meu passado ou conveniência para o trabalho na Torre. Vocês têm o direito de saber essas coisas. Mas... - e então sua calma oscilou, -... mas devem também me admitir ou recusar baseados em meu talento. Estou aqui por interesse próprio, não de outro. Outros podem usar seu laran para conspirar e espiar, mas eu não, - ele disse olhando diretamente para Auster.
- Criança, não se dirija ao Guardião da Torre Arilinn desta maneira! - Lunilla se engasgou. O homem de manto verde praguejou, mas Auster inclinou-se para olhar Varzil ainda mais de perto com aqueles intensos olhos azuis.
- Não, está tudo bem, - disse Auster. - Ele falou como um homem, então merece uma resposta de homem. Jovem Ridenow, você tem um inegável talento, mas também vem aqui, para sua própria admissão, sem a permissão de seu pai e contra sua vontade. Não estamos preparados para oferecer-lhe um lugar sob tais circunstâncias. Nestes tempos turbulentos, não é apenas uma questão de aceitar qualquer um com laran. Nós das Torres devemos fazer tudo que pudermos para manter-nos distantes dos maiores eventos do mundo.
Com o coração partido, Varzil percebeu que acertara. Sua admissão na Torre Arilinn envolvia muito mais do que seus próprios desejos e habilidades. Nada que pudesse dizer agora mudaria esse fato.
- Você não parece perturbado pela doença que tão frequentemente acompanha o despertar do laran, - o monitor de manto branco disse, - então não há necessidade de treinamento para salvar sua vida ou sanidade, nenhuma emergência que justificaria ultrapassar os desejos de seu pai. O treinamento que tem recebido da leronis de sua família já é o bastante.
Auster levantou-se, sinalizando que a entrevista acabara. Atordoado, Varzil ficou parado enquanto os leronyn deixavam a sala, todos exceto o homem de manto branco. Ele gesticulou que Varzil o seguisse. Refizeram seus passos, descendo pelo estranho tubo impulsionado por laran de antes, guiados por movimentos rituais das mãos.
Na despedida, o monitor falou a Varzil em um tom gentil. - Foi um prazer tomar o desjejum com você. Com a benção dos deuses, você prosperará, gerará muitos filhos, e será um orgulho para sua família.
Mas um talento perdido... Abruptamente, as barreiras mentais do homem se ergueram. Privado de seus sentimentos particulares, o laranzu nunca falaria contra o veredicto de seu Guardião.
Varzil pensou descontroladamente naquele momento, ele estava saindo da Torre. Tinha que achar um jeito de voltar. Havia tanto que queria perguntar, saber! Palavras obstruíam sua garganta enquanto os segundos se passavam. Encontrou-se parado na entrada da Torre Arilinn com o sol da manhã enchendo as ruas da cidade. Quando se virou, o portão estava fechado.
continua...
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