quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Forja de Zandru - trecho 10

Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti


...
Uma cópia de Táticas Militares de Roald Mclnery estava aberta na escrivaninha. Carolin deu um passo largo e fechou o livro, impaciente com seu estilo cansativo. O material, depois de atravessar com dificuldade sua antiquada linguagem, era bem interessante. Mclnery escreveu sensivelmente sobre fortificações, linhas de suprimentos, e posicionamento de tropas. Mas também discutia armamentos de laran como uma natural e inevitável extensão da força dos exércitos. Algumas das armas eram desconhecidas a Carolin, mas outras eram muito familiares a um herdeiro real naqueles tempos caóticos. Ligadas telepaticamente aos seus treinadores, aves-sentinela podiam espionar a posição de um exército, fogo aderente podia transformar homem e animal em tochas vivas, transmissões podiam mandar mensagens mais rápido do que cavalo ou carro-aéreo, e pequenos círculos de leronyn podiam controlar a própria mente do inimigo.
Mesmo assim as poderosas Torres Neskaya e Tramontana não puderam proteger a si mesmas do conflito e caos do mundo lá fora. Sugadas para dentro da guerra há uma geração atrás pelo comando de seus respectivos lordes, as duas Torres acabaram destruindo uma a outra. A maioria de seus trabalhadores altamente treinados e Dotados tinha sido morta ou mentalmente mutilada.
Ninguém tinha certeza absoluta de como acontecera, mas as baladas sugeriam que Neskaya tinha engrenado o desenvolvimento de uma nova e terrível arma que foi acidentalmente disparada durante a confrontação final. Diziam que dentro dos escombros, sinistras chamas azuis ainda ardiam, alimentadas da própria matéria das pedras.
Carolin uma vez conhecera uma sobrevivente daquela horrenda batalha, uma prima distante Hastur que tinha sido leronis em Tramontana. A velha Dama Bronwyn escapara do pior da batalha, mas quando ele perguntou sobre aquilo, ela virou-se para ele com um olhar de tanta desolação que seu pequeno coração de garoto falhou em seu peito. Ela não respondeu; sua expressão fora o suficiente.
Estórias de como as Torres tinham sido puxadas para a Guerra entre Hastur e um implacavelmente ambicioso vizinho, Deslucido de Ambervale, ainda circulavam nos dormitórios dos garotos. Diziam que o Guardião de Neskaya, apaixonado por uma leronis de Tramontana, sacrificara a si mesmo em desafio às ordens de seu lorde para salvá-la, mas em vão, pois ambos haviam sido sugados pelas chamas. Ainda não sabia se aquilo era verdade, ou quaisquer das outras lendas sussurradas em volta da lareira durante as longas noites de inverno, mas desejava que fossem.
Com a derrota de Ambervale e de todas as suas províncias conquistadas, Darkover alcançara apenas uma frágil paz. Cem reinos ainda pontilhavam a paisagem. Os maiores consumiam os menores e depois se quebravam em uma sucessão de disputas e insurreições. Em sua infância, Carolin ouviu os lordes de sua própria família argumentando, debatendo, esforçando-se para conter os piores abusos de armamentos de laran. Lembrava-se de seu tio Rafael dizendo, várias e várias vezes, “Deve haver um caminho”.
As ruínas das Torres e a desolação do Lago de Hali, o resultado de um antigo desastre conhecido como Cataclismo, permaneciam como testemunhas mudas de sua derrota.
Carolin espantou seus devaneios. Estava diante de sua própria porta, dedos alisando a tranca de madeira, como se acordasse de um sonho. Quando voltou para sua janela, o garoto Ridenow havia ido embora. Carolin sabia, com aquela certeza recorrente, que eles se encontrariam novamente.

continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário