O lago surgiu à vista, como Carolin o recordava. A certa distância,
parecia uma neblina que nunca se dissipava ou se movia, apesar dos ventos e
clareza do céu. O sol estava subindo agora e brilhava na superfície mística. No
lado oposto, a Torre se erguia, uma esguia estrutura de pedra pálida e
translúcida tão estimada pelo Comyn.
Eles pararam seus cavalos perto da margem, e ouviu-se o suave bater das
ondas que transbordavam nas encostas. Varzil desmontou para pegar um punhado do
nebuloso material.
- Não é nem água, nem nuvem, - Carolin disse, repetindo o que seus
tutores disseram. Ele escorregou da sela. - Você pode atravessar até o fundo. Orain
e eu tentamos uma vez... o que, seis anos atrás?
Orain concordou. Ele permaneceu em seu cavalo, olhos esquadrinhando o
horizonte. Aquilo era bem coisa de Orain, manter-se à parte, observador. De
repente, Carolin ressentiu-se à lembrança do perigo.
- Vamos. - Gesticulando para Varzil, Carolin entrou no lago.
Varzil assustou-se enquanto a água-nuvem ondulava contra suas botas,
mais como orvalho do que líquido. Ele recuou, estremecendo. Alarmado, Carolin
virou-se. - O que foi?
- Não sente isso? - Varzil perguntou. - Este lugar... do que disse que
este lago era feito?
- Não sabemos. O evento é chamado de Cataclismo. Deve ter havido
registros antes, mas se ainda existem, estão perdidos. - E é algo bom, também,
ou alguém certamente teria ressuscitado qualquer arma terrível que tenha
transformado um lago comum neste lugar fantasmagórico.
Varzil balançou os ombros e as águas ao seu redor vibraram com o movimento.
- Foi embora...
- O quê?
- Por um momento, eu pensei… Você sabe que objetos físicos podem reter
impressões de laran, especialmente de fortes emoções. Bem, - com um
brilhante sorriso, - nós chegamos até aqui. Vamos continuar, assim poderei
contar ao povo em Arilinn sobre o peixe-pássaro do qual cantam os menestréis.
Eles continuaram. Carolin prendeu a respiração e afundou a cabeça sob a
superfície. O sol, alto agora, enchia as águas com seu brilho. Contra todos
seus instintos, ele abriu sua boca e inalou. Era como respirar uma grossa
névoa.
As rochas da margem deram lugar às encostas de areia em declive. A
atmosfera ficava mais densa. Carolin forçou-se a respirar regularmente e a
sensação de sufocamento suavizou.
Abaixo, verde brilhante e objetos laranja tremeluziam com as correntes
de nuvem. Carolin tocou a manga de Varzil e apontou.
- Peixe-pássaro. - A água mística abafou suas palavras.
Próximo ao fundo plano, longos arbustos verdes pairavam em uma dança
ondulante e rítmica, alguns ultrapassavam a altura de um homem. Carolin
tropeçou em uma pedra sob a superfície de areia. A luz era mais fraca ali. As
brilhantes criaturas coloridas nadavam ou flutuavam em cardumes, subindo e
descendo em uníssono. Suas peles cintilavam quando um raio de sol as tocava.
Varzil estendeu suas mãos para o peixe-pássaro, chamando-o gentilmente
com seu laran. Diziam que os Ridenows
tinham uma particular empatia com os animais e devia mesmo ser assim, pois eles
o rodearam, os vermelhos pequeninos passando entre seus dedos estendidos como
fitas vivas. O prazer de Varzil ondulou pelas águas, e através de seu leve
contato, Carolin sentiu alegrar seu próprio coração.
Carolin ficaria feliz em voltar, mas então Varzil tomou a liderança,
levando-o ainda mais para o fundo. O peixe-pássaro os seguiu por um tempo,
pulando para beliscar seus cabelos ou olhar com curiosidade, sem piscar. As
águas escureceram enquanto a luz que penetrava em suas profundezas diminuía.
Bem além do limite da visão, fracas luzes tremeluziam.
Mais peixes-pássaro? Carolin se perguntou, ou algo
ainda mais estranho? Sentiu um calafrio na espinha e a sensação de
liberdade diminuiu. Sombras o pressionavam, e as correntes criavam inscontantes
figuras entre os arbustos.
Ele procurou por Varzil, para puxá-lo de volta em direção à luz, mas seu
amigo balançou a cabeça e continuou.
O que ele iria fazer, deixá-lo ali? Varzil não conhecia nada dos perigos
do lago de Hali; a necessidade de continuar respirando mesmo quando não sentia necessidade,
os sinais de fadiga e confusão mental.
Só um pouco mais, e depois iremos
embora, mesmo que eu tenha que levá-lo à força!
Varzil parou, tão subitamente que Carolin chocou-se contra ele. Varzil
apontou, criando ondas de nuvem-água com o movimento. Adiante, oculto pelas
correntes de névoa, havia uma enorme forma, muito maior do que um homem.
Carolin não podia saber se aquilo realmente existia ou se era algum truque da
luz e da névoa turbulenta.
Enquanto se aproximavam, contudo, ele viu a pedra sólida, uma única
coluna caída. Algas e areia cobriam sua superfície. Não podia notar sua cor
original. Mesmo gastos pelo tempo e pelas ondas de nuvens-água, os contornos
pareciam suaves, como se tivessem sido trabalhados por tecnologia de matriz.
Havia marcações, mas estavam tão escurecidas que não conseguiu decifrá-las.
De algum modo, ele não queria tocá-la.
Varzil, com aquele seu jeito destemido, foi direto para a coluna caída.
Ela chegava na altura de seus joelhos. Com um braço esticado para se
equilibrar, ele estendeu sua outra mão e tocou a pedra com sua palma.
E gritou.
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