Marion Zimmer Bradley
A Matriz de Sombra
Tradução: Ariane Pierini e
André Henrique Pereira
Prólogo
− Diga outra vez por que viemos visitar Priscila Elhalyn − murmurou Dyan Ardais, descendo a escada na frente de Mikhail. − E por que concordamos em participar dessa... coisa?
Mikhail Lanart-Hastur olhou para seu amigo, seus cabelos escuros e a pele clara na luz bruxuleante dos lampiões, e fez menção de responder. Um relâmpago iluminou o tapete puído sob seus pés, ao mesmo tempo em que o estrondo de um trovão agitava as paredes do Castelo de Elhalyn. A chuva fustigava as vidraças das janelas.
− Estávamos meio bêbados na ocasião − disse, quando o barulho diminuiu. − E havia todas aquelas garotas em Thendara, se embelezando para a gente.
− Só que não estamos bêbados agora, e ir a uma sessão não é a minha idéia de diversão!
− Como sabe? A quantas sessões você já foi?
− Nenhuma! Acho que falar com gente morta, ou tentar fazê-lo, é uma idéia sórdida.
Mikhail riu, jovial. O jovem Dyan Ardais, a quem servia como paxman, era um homem bastante nervoso de dezoito anos.
− Qual é o problema? Está com medo de que a médium de Priscilla conjure o seu pai?
− Deuses! Eu nem mesmo havia pensado nisso! Nunca o conheci quando estava vivo, e não tenho a menor vontade de conhecê-lo agora!
Mikhail teve muitos dias para se arrepender do impulso que os trouxera ao decadente Castelo de Elhalyn. Sabia que já tinha idade para não fazer essas coisas, e que Dyan era responsabilidade sua. Se ao menos não estivessem tão entediados, e tão inclinados a fazer o indevido. Ora, não havia remédio. Eram os hóspedes de Priscilla Elhalyn, irmã de Derik Elhalyn, o último rei de Darkover, e, de qualquer modo, não poderiam montar nos cavalos e cavalgar na tempestade.
− O mais provável é que será um completo fiasco, Dyan, e que eles não invocarão o fantasma de Derik Elhalyn do mundo superior. Nem o do pai dela, ou o da minha avó, Alanna Elhalyn. Embora eu não me incomodasse em vê-la; ela morreu há muito tempo, e sempre tive alguma curiosidade a seu respeito. Aposto que nem mesmo vamos ter uma boa história para contar quando voltarmos.
− Por mim, isso seria ótimo. − Dyan soava menos irritado, apaziguado pelo bom humor de Mikhail. − Até agora tem sido um tédio só... a menos que você leve em conta conhecer aqueles criados dela. Eu nunca soube de ninguém que hospedasse leitores de ossos e médiuns antes.
− Os Elhalyn sempre foram um bocado excêntricos.
− O que quer dizer é que Priscilla é só um pouquinho menos louca do que seu irmão insano, não é verdade? Aquele tal Burl me dá arrepios, e eu tenho certeza de que é por causa dele que temos de participar dessa invocação de fantasmas.
Mikhail riu outra vez, mas ele partilhava da opinião de Dyan a respeito do leitor de ossos. Tal atividade podia ser encontrada nos mercados de qualquer cidade de Darkover, mas não era comum no lar de uma comynara. Mas ele sabia que tentar ver o futuro era um desejo perfeitamente humano, e desconfiava que Burl simplesmente possuía um pequeno talento, um laran parecido com o Dom de Aldaran da presciência.
A outra confidente de Priscilla, a mulher Ysaba, era, na sua opinião, a mais estranha dos dois. Mikhail já havia conhecido leitores de ossos e outros adivinhos antes, mas uma médium ultrapassava a sua experiência. Sentiu que ela possuía laran, mas de um tipo com que ele nunca se deparara antes, e desconfiou que a mulher nunca treinara em uma Torre. Desejava poder indagar diretamente a ela, mas isso teria sido muito grosseiro.
Os dois jovens atravessaram um corredor empoeirado e encontraram Duncan MacLeod, que cuidava dos estábulos, embora trabalhasse também como coridom. Tratava-se de um homem grisalho, o rosto enrugado, os olhos desconfiados. Entretanto, os estábulos se encontravam em bom estado − melhor do que o próprio castelo, que decaíra sob a administração descuidada de Priscilla. O séqüito de Priscilla era composto por idosos, e contava com poucas pessoas. Não havia criadas jovens para arrumar os quartos e nenhum rapaz aprendendo a cuidar dos estábulos, o que também era estarrecedor. O Castelo de Elhalyn encontrava-se quase às moscas, com uma atmosfera inquietante de desolação.
− Diga outra vez por que viemos visitar Priscila Elhalyn − murmurou Dyan Ardais, descendo a escada na frente de Mikhail. − E por que concordamos em participar dessa... coisa?
Mikhail Lanart-Hastur olhou para seu amigo, seus cabelos escuros e a pele clara na luz bruxuleante dos lampiões, e fez menção de responder. Um relâmpago iluminou o tapete puído sob seus pés, ao mesmo tempo em que o estrondo de um trovão agitava as paredes do Castelo de Elhalyn. A chuva fustigava as vidraças das janelas.
− Estávamos meio bêbados na ocasião − disse, quando o barulho diminuiu. − E havia todas aquelas garotas em Thendara, se embelezando para a gente.
− Só que não estamos bêbados agora, e ir a uma sessão não é a minha idéia de diversão!
− Como sabe? A quantas sessões você já foi?
− Nenhuma! Acho que falar com gente morta, ou tentar fazê-lo, é uma idéia sórdida.
Mikhail riu, jovial. O jovem Dyan Ardais, a quem servia como paxman, era um homem bastante nervoso de dezoito anos.
− Qual é o problema? Está com medo de que a médium de Priscilla conjure o seu pai?
− Deuses! Eu nem mesmo havia pensado nisso! Nunca o conheci quando estava vivo, e não tenho a menor vontade de conhecê-lo agora!
Mikhail teve muitos dias para se arrepender do impulso que os trouxera ao decadente Castelo de Elhalyn. Sabia que já tinha idade para não fazer essas coisas, e que Dyan era responsabilidade sua. Se ao menos não estivessem tão entediados, e tão inclinados a fazer o indevido. Ora, não havia remédio. Eram os hóspedes de Priscilla Elhalyn, irmã de Derik Elhalyn, o último rei de Darkover, e, de qualquer modo, não poderiam montar nos cavalos e cavalgar na tempestade.
− O mais provável é que será um completo fiasco, Dyan, e que eles não invocarão o fantasma de Derik Elhalyn do mundo superior. Nem o do pai dela, ou o da minha avó, Alanna Elhalyn. Embora eu não me incomodasse em vê-la; ela morreu há muito tempo, e sempre tive alguma curiosidade a seu respeito. Aposto que nem mesmo vamos ter uma boa história para contar quando voltarmos.
− Por mim, isso seria ótimo. − Dyan soava menos irritado, apaziguado pelo bom humor de Mikhail. − Até agora tem sido um tédio só... a menos que você leve em conta conhecer aqueles criados dela. Eu nunca soube de ninguém que hospedasse leitores de ossos e médiuns antes.
− Os Elhalyn sempre foram um bocado excêntricos.
− O que quer dizer é que Priscilla é só um pouquinho menos louca do que seu irmão insano, não é verdade? Aquele tal Burl me dá arrepios, e eu tenho certeza de que é por causa dele que temos de participar dessa invocação de fantasmas.
Mikhail riu outra vez, mas ele partilhava da opinião de Dyan a respeito do leitor de ossos. Tal atividade podia ser encontrada nos mercados de qualquer cidade de Darkover, mas não era comum no lar de uma comynara. Mas ele sabia que tentar ver o futuro era um desejo perfeitamente humano, e desconfiava que Burl simplesmente possuía um pequeno talento, um laran parecido com o Dom de Aldaran da presciência.
A outra confidente de Priscilla, a mulher Ysaba, era, na sua opinião, a mais estranha dos dois. Mikhail já havia conhecido leitores de ossos e outros adivinhos antes, mas uma médium ultrapassava a sua experiência. Sentiu que ela possuía laran, mas de um tipo com que ele nunca se deparara antes, e desconfiou que a mulher nunca treinara em uma Torre. Desejava poder indagar diretamente a ela, mas isso teria sido muito grosseiro.
Os dois jovens atravessaram um corredor empoeirado e encontraram Duncan MacLeod, que cuidava dos estábulos, embora trabalhasse também como coridom. Tratava-se de um homem grisalho, o rosto enrugado, os olhos desconfiados. Entretanto, os estábulos se encontravam em bom estado − melhor do que o próprio castelo, que decaíra sob a administração descuidada de Priscilla. O séqüito de Priscilla era composto por idosos, e contava com poucas pessoas. Não havia criadas jovens para arrumar os quartos e nenhum rapaz aprendendo a cuidar dos estábulos, o que também era estarrecedor. O Castelo de Elhalyn encontrava-se quase às moscas, com uma atmosfera inquietante de desolação.
Continua...
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