A senhora do Trílio
Marion Zimmer Bradley
Tradução de Ariane Pierini
A torre de Noth, feita de pedra, erguia-se desolada, no meio do mato murcho de sede. O restinho de água no fosso estava coberto de espuma e o cheiro de morte pairava no ar. A menina atravessou correndo a ponte levadiça, passou pelo pátio e pelo jardim, e entrou no quarto da arquimaga a tempo de ver a velha senhora morrer e seu corpo desfazer-se em pó. Enquanto estava ali parada, chocada com os acontecimentos tão repentinos, a Torre inteira virou pó à sua volta e foi soprada pelo vento, e tudo que restou foi a capa branca da arquimaga...
Haramis, a Senhora de Branco, arquimaga de Ruwenda, despertou subitamente, sentindo-se muito velha, mais a inda se comparada à menina que tinha sido em seu sonho. Não era exatamente uma surpresa, estava velha mesmo, tendo passado por várias vidas comuns até então, ela pensou com tristeza. Como arquimaga, ligada espiritualmente à terra, seu tempo de existência tinha sido ampliado muito além da vida de suas duas irmãs. Apesar de nascidas juntas, seus destinos tinham se separado à muito tempo e ela, a mais velha das princesas trigêmeas, era a única sobrevivente.
Kadiya, a do meio, foi a primeira a partir. Depois da grande batalha contra Orogastus, ela desapareceu em seus amados pântanos com o companheiro Oddling e seu talismã, o Olho Ardente Trilobado, que fazia parte do grande cetro mágico que as trigêmeas usaram para derrotar Orogastus. Durante um tempo, Haramis e ela se comunicavam ocasionalmente por meio da visão, mas Kadiya havia desaparecido havia décadas. A essa altura – pensou Haramis – ela já deve estar morta.
Anigel, a mais nova, tinha casado com o príncipe Antar de Labornok, unindo os dois reinos, e morreu em paz, de velhice, cercada pelos filhos e netos. O trono duplo passou para seus descendentes. Quem reinava agora, um neto ou um bisneto? Haramis não conseguia lembrar, os anos passavam depressa demais. Talvez fosse até um tataraneto.
Haramis, a mais velha, foi escolhida para substituir a arquimaga Binah como guardiã da terra. Ruwenda prosperou naqueles anos e Haramis amava a terra como se fosse uma filha. E de certa forma era mesmo.
Agora, contudo, estava tendo sonhos estranhos. Era a terceira noite seguida que revivia a morte de Binah em sonhos e acordava de manhã cansada demais para sair da cama. Será que era um aviso de que morreria em breve?
Talvez estivesse chegando a hora de uma nova guardiã assumir a função. Se sua sucessora fosse escolhida logo, talvez até tivesse tempo de treiná-la. Haramis gostaria de ter tido algumas aulas quando foi escolhida, mas não teve. Queria fazer mais por sua sucessora. Mas quem poderia ser?
Binah tinha simplesmente dado a capa para Haramis antes de morrer, e a torre em que viveu e trabalhou desfez-se em pó junto com seu corpo. Haramis, que até aquele momento era herdeira do trono, tinha sido treinada desde criança para ser rainha, não arquimaga. Achou a repentina mudança desconcertante, para dizer o mínimo. Aquele não era o legado que desejava deixar para sua sucessora.
A arquimaga arrastou-se para fora da cama, ignorando as articulações doloridas e uma sensação generalizada de mal-estar. Se ainda estivesse morando na cidadela de Ruwenda, onde fora criada, sem dúvida estaria se sentindo ainda pior – A cidadela era um castelo de pedra típico, impossível de aquecer. Mas a Torre onde Haramis vivia desde o momento em que se tornou arquimaga era quente por dentro, apesar de estar localizada perto da fronteira entre Labornok e Ruwenda, no cume do monte Brom, e de ser inverno. Orogastus vivera na torre antes dela, e equipou-a com todos os luxos que conseguiu descobrir, roubar ou comprar. Tinha se especializado nos aparelhos dos Desaparecidos. Muitos eram armas perigosas, outros, porém, eram bem práticos e tornavam o dia a dia muito mais confortável.
Infelizmente para ele, Orogastus jamais compreendeu muito bem a diferença que havia entre a tecnologia deixada para trás pelos Desaparecidos e a verdadeira mágica. Dependia tanto da tecnologia, que Haramis e suas irmãs foram capazes de destruí-lo com a magia.
Para Haramis a diferença entre a mágica e a tecnologia antiga era tão óbvia, embora difícil de explicar, que ainda não entendia como Orogastus podia ter sido tão tacanho, especialmente considerando que ele já possuía habilidades mágicas próprias.
Haramis ainda estremecia ao lembrar-se da breve atração provocada por ele. Durante algumas semanas chegou a achar que estava apaixonada. Mas aparentemente isso funcionou contra ele, lembrou. Ele perdeu várias oportunidades de me prejudicar, mesmo depois de eu ter deixado claro que não o amava. Era como se estivesse convencido de que me amava e não podia causar-me mal, e que eu o amaria também, necessariamente, e que iria ajudá-lo em seus planos.
Ela aproximou-se de um armário de madeira todo trabalhado e pegou uma bacia de prata de uma das gavetas. Colocou a bacia sobre uma mesa no centro do quarto, despejou água pura de um jarro que estava ao lado da cama até cobrir metade do recipiente e inclinou-se sobre ele.
A visão na água era praticada por várias raças de oddlings que viviam nos pântanos em volta da cidadela. Os oddlings não eram humanos. Eram aborígenes, descendentes dos primeiros habitantes da terra. Algumas raças de oddlings eram bem parecidas com os humanos, enquanto outras eram como seres saídos de pesadelos, mas geralmente viviam em paz com os humanos...
Continua....
Aguardem a versão em ebook completa!
Nossa otimo trecho de a senhora do trilio. Sempre tive vontade de ler mas como nao esta em portugues surge o nao saber traduzir, junto com um pouco de preguiça. Parabens para Ariane Pierini quando estiver completo mandem porque eu desejo ler *_*
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