Autor: Marion Zimmer Bradley
Tradução: Ariane Pierini e Andre Henrique Pereira
PARTE UM
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Mikhail Lanart-Hastur cavalgava na margem do rio Valeron, desfrutando do aprazível dia de outono. A brisa ondulava os cabelos dourados na sua fronte, e seus olhos azuis refletiam a cor da água. O ar estava fresco e as árvores na margem, coloridas em dourado e castanho, lembravam-no dos olhos ardorosos da sua prima Marguerida Alton. É verdade que quase tudo o lembrava dela e, para ser honesto, era difícil não pensar nela ao invés de se concentrar na tarefa a sua frente.
Estava retornando às terras de Elhalyn que visitara brevemente quatro anos atrás. Na época ele era paxman de Dyan Ardais e o herdeiro intitulado de Regis Hastur − coisa que ainda era. Agora, havia sido nomeado Regente do Domínio de Elhalyn, encarregado de testar os filhos de Priscilla Elhalyn a fim de deter-minar se algum deles era mentalmente estável o suficiente para ocupar a muito cerimoniosa, porém importante, tarefa de ser rei.
Mikhail relembrou o seu último encontro com Priscilla, que terminara numa sessão, e sacudiu a cabeça. Especulava se Durl, o leitor de ossos, e Ysaba, a médium, ainda eram companheiros da mulher. Soube que os Elhalyns haviam deixado o castelo pouco tempo depois que ele e Dyan estiveram lá, e se mudado para a Casa Halyn. Era para onde estava indo, acompanhado de dois Guardas, Daryll e Mathias. Devia ter providenciado uma comitiva maior − a sua nova e inadvertida posição o exigia. Priscilla desejara que Mikhail fosse sozinho, mas devido à ansiedade de seu tio em restaurar o reinado de Elhalyn, isso estava fo-ra de questão. Regis enviara os Guardas, e Mikhail apreciava a companhia deles.
Sempre que Mikhail pensava a respeito da assembléia na Câmara de Cristal no Castelo Comyn antes do solstício de verão, perdia o bom humor. Ele revisara os acontecimentos repetidamente, tentando desvendá-los. Primeiro seu tio Regis anunciou que estava dissolvendo o Conselho Telepático, que auxiliara no governo de Darkover por mais de duas décadas, a fim de restaurar o Conselho Comyn tradicional. Depois, sem avisar ou consultar ninguém, nomeou Mikhail Regente de Elhalyn, e Mikhail aceitara o cargo por um senso de dever. Ele não tivera tempo para ponderar, pesar as vantagens ou considerar as ramificações. Para ser honesto, não tivera escolha senão aceitar.
A raiva que fervilhara dentro dele durante meses rodopiou em seu estômago. Mikhail nunca tivera razão para se enraivecer com o tio até agora, e detestava sentir-se assim. Mas não podia negar o fato de que Regis o manipulara em direção a uma posição que não desejava, por razões que ele se recusara a explicar. Somente seu profundo senso de dever fez com que se submetesse, cerrando os dentes de frustração. Havia algo acontecendo que Mikhail não conseguia entender. Seu único consolo era que não era o único que se sentia assim − ninguém, a não ser talvez Danilo Syrtis-Ardais, sabia o que Regis fazia no momento.
Mikhail sabia que seu tio era um homem perspicaz e astucioso, que conseguira governar Darkover durante um terrível período em sua longa e sangrenta história. Sempre confiara em Regis, mas agora a confiança se achava assediada por suas emoções, assim como dúvidas. Mikhail analisou o problema o máximo possível, e descobriu contradições o suficiente para preocupá-lo. Até mesmo se perguntara se Regis Hastur sabia o que estava fazendo − só um instante, antes de sufocar o pensamento e bani-lo para o fundo de sua mente.
continua...
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