Autor: Marion Zimmer Bradley
Tradução: Andre Henrique Pereira e Ariane Pierini
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Mikhail refletiu sobre seu mais recente encontro com Regis, antes de partir. O tio parecia cansado e perturbado, e ele sentiu-se muito constrangido por solicitar o tempo e a atenção de Regis. A Regência de Elhalyn era uma preocupação menor comparada à restauração do Conselho, o problema da herança contestada do Domínio de Alton, ou a possibilidade dos Aldarans retornarem à sociedade Comyn.
O encanto Hastur, do qual Regis possuía uma quantidade incomum, estava ausente. Mikhail fez as perguntas de que ele desejava − sentia que precisava − obter as respostas, e recebeu retornos menos que satisfatórios. Seu tio não oferecera nenhuma pista sobre o que tencionava fazer, e, em retrospecto, Mikhail percebia que não se mostrara muito apoiador ou mesmo atencioso. “Você dará conta, Mikhail. Eu tenho certeza. Conversaremos melhor quando voltar para o solstício de inverno. Preocupe-se em testar os rapazes. Não há urgência”.
Mikhail ficara com a sensação que o que lhe ordenavam que fizesse não importava muito − e pior, que ele também não importava muito. Fazia com que se sentisse exilado, da forma que sentira depois que o filho de Regis, Danilo, nascera, indesejado e incômodo. Intelectualmente, ele tinha certeza de que não era esse o caso − na época ou agora − mas era honesto o suficiente consigo mesmo para admitir que seus sentimentos estavam mais do que um pouco feridos.
O problema, como ele o via, era que Regis parecia estar querendo dobrar o tempo, ao afirmar que a restauração do reinado de Elhalyn era necessária, assim como a restauração do Conselho Comyn. Ao mesmo tempo, Regis insistia que esses movimentos não eram reacionários, mas nos melhores interesses do futuro. Soara plausível até que Mikhail analisara com atenção.
Nem por um momento passava pela sua cabeça que Regis não tinha algum plano, algum esquema em mente. A única informação que conseguiu extrair do tio era sua convicção de que Darkover precisava se tornar verdadeiramente unido − que os Aldarans precisavam fazer parte do Conselho Comyn − e logo.
Como os outros Domínios desconfiavam dos Aldarans, Regis estava tendo muita dificuldade para convencer os outros membros do Conselho Comyn a concordar com o pouco que ele revelara de seu plano. Os pais de Mikhail se opuseram à idéia, assim como Dama Marilla e seu filho Dyan Ardais. Dom Francisco Ridenow parecia mudar de idéias a cada dia, e apenas Lew Alton apoiou totalmente a idéia.
Mikhail, ao contrário dos pais, não tinha reservas quanto aos Aldarans. Visitara-os anos atrás, sem o conhecimento dos dois, e conhecera o velho Dom Damon, seu filho e herdeiro, Robert, e o gêmeo de Robert, Hermes Aldaran, que recentemente assumira o cargo de Lew Alton como representante de Darkover no Senado Terráqueo. E conhecera Gisela Aldaran, a irmã deles, que era uma moça encantadora na época. Gostara dos Aldarans, e sabia perfeitamente bem que eles não possuíam chifres e caudas.
Mas o preconceito contra a família era antigo e profundo. Darkovanos tinham uma excelente memória, principalmente no que se referia à traição, e os Aldarans haviam traído o Conselho anos atrás. Era fácil para Regis dizer que o passado precisava ser esquecido, que era hora de curar antigas feridas. Ele obviamente não antecipara a resistência ferrenha que encontrara às suas propostas.
Mikhail não tinha certeza que mesmo seu tio conseguiria acertar as coisas, apesar de todos os seus poderes de persuasão. Quanto mais Regis pressionava, mais se opunham a ele, especialmente a mãe de Mikhail, Javanne Hastur. De muitas formas, o comportamento de sua mãe desde a assembléia na Câmara de Cristal tem sido ainda mais exasperador que o de Regis. Ela sempre foi uma mulher obstinada, mas o anúncio de sua Regência despertara nela uma fúria ferrenha que ele não conseguia compreender. Ela não era mais a mãe que ele conhecia, mas uma estranha fria e distante. Havia momentos em que especulava se ela estava totalmente sã. Sua mãe era uma Elhalyn, afinal de contas, e eles eram conhecidos pela instabilidade. Não acalentou essa terrível idéia por muito tempo, porque, como Regis Hastur era seu irmão, poderia acabar duvidando do tio pelas mesmas razões. Esse pensamento era intolerável.
O vento espalhou na estrada folhas que tinham uma cor idêntica ao cabelo vermelho de Marguerida. Mikhail concluiu que era melhor sonhar com a amada do que tentar desembaraçar mais assuntos preocupantes.
A separação deles na Torre Arilinn, cinco dias atrás, havia sido penosa, embora os dois tentassem exibir uma expressão de bravura. Ela recuara para a distância particular em que ele agora sabia que Marguerida se refugiava quando estava descontente. Não falaram de amor, por que isso teria sido muito doloroso. Conversaram assuntos triviais, usando o irrelevante para ocultar sentimentos que ameaçavam subjugar a ambos.
Mikhail e Marguerida haviam ido para Arilinn logo após o solstício de verão, Marguerida para dar início aos seus estudos na ciência de matriz, e Mikhail para aprender o que precisava saber a fim de testar os garotos Elhalyn pelo laran, o que se mostrara mais complicado do que imaginara. Era um pouco irônico, ele refletiu, que Marguerida estivesse tentando aprender a ciência de matriz, quando, em certo sentido, os próprios cristais eram um anátema para ela. Suas primeiras semanas ali haviam causado outro ataque da doença do limiar, resultado da proximidade dos transmissores de matriz na Torre. Esta, pelo menos, fora a única explicação que puderam oferecer.
Para o aborrecimento de Mestra Camilla MacRoss, encarregada dos estudantes iniciantes em Arilinn, Marguerida recebera permissão para viver em uma das diversas casinhas mantidas para visitantes, convidados e familiares daqueles que vinham para a Torre curar-se, no luar de ir dormir nos dormitórios com os outros. Era uma coisa sem precedentes, e dificultara ainda mais a situação de Marguerida. Mestra MacRoss não gostava que seus comandados recebessem trata-mento especial, a menos que ela o conferisse.
Sorriu um pouco à lembrança, pois conhecia Mestra Camilla de seus próprios dias em Arilinn, anos atrás. Ela já era velha na época, e agora era uma anciã. Ninguém, nem mesmo Jeff Kerwin, o Guardião de Arilinn, se atrevia a sugerir que ela poderia considerar aposentar-se de seu cargo. Ela era muito rigorosa e rígida, o que era de se esperar, uma vez que as pessoas sob seu comando eram quase sempre jovens, adolescentes desenvolvendo seu laran, cheios de vitalidade, malícia e por vezes poderes que não tinham sob total controle.
continua....
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