quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Forja de Zandru - trecho 6

Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti
...
Por um longo momento, o jovem continuou a examiná-lo. Com um aceno e, - Espere aí, - ele desapareceu para dentro da Torre.
Varzil soltou a respiração que não sabia estar segurando. Enquanto tentava se acalmar, o Véu tremeluziu e partiu-se como uma cascata colorida. Um homem em um manto branco de monitor o atravessou. O cinza dominava seu cabelo castanho-avermelhado e linhas demarcavam sua boca e olhos. A poucos passos atrás vinha o jovem da sacada. Àquela distância, Varzil foi atingido pelo comando de presença do outro garoto.
O homem de manto branco parou, seu olhar vacilando sobre as cores do manto de Varzil, o verde e dourado de seu clã.
- Vai Dom... - Varzil rompeu o silêncio. - Sou Varzil Ridenow, filho mais novo de Dom Felix de Água Doce. Vim procurar treinamento aqui. Far-me-ia a gentileza de levar-me ao Guardião?
A boca firme suavizou em um lampejo de sorriso. - Jovem senhor, não posso imaginar nada mais apropriado. Eu certamente não presumiria decidir o que fazer com você.
Varzil aproximou-se do Véu, como indicou o homem de manto branco. Nunca estivera tão perto de um dispositivo de matriz tão poderoso antes, apenas pedras-da-estrela pessoais ou o amortecimento telepático que a leronis da propriedade Ridenow usara quando sua mãe tivera um de seus desmaios.
Ergueu uma mão, dedos estendidos, mas ainda não ousando tocar o Véu. Além de belo, o que era aquilo? Duas pessoas... três se contasse o kyrri... haviam passado através dele como se este fosse um tecido transparente.
Virou sua cabeça para ver o monitor observando-o atentamente. Outro teste, então. Ele firmou seu maxilar e deu um passo adiante.
O Véu parecia com uma fina névoa furta-cor, que ele esperava que fosse fria e talvez úmida. No instante que o tocou, este mudou, envolvendo-o. Ele tossiu, aspirando um ar com o sabor metálico de uma tempestade de trovão. A pele de todo o seu corpo tremia, cada pêlo ereto. Os pequenos músculos ao redor de seus olhos se contraíram. Não conseguia sentir as pontas dos dedos.
No instante seguinte, ele permaneceu trêmulo em um cubículo sem janelas. Embora não estivesse diretamente dentro de um campo de matriz, ele sentiu a força na pequena sala, como se ela própria fosse um dispositivo de laran. Virando-se para olhar para trás, ele visualizou formas, borradas e escuras. Era algum tipo de armadilha? Outro teste?
Então o monitor de manto branco deu um passo através do tremeluzente arco-íris. O jovem o seguiu, sorrindo.
- Eu lhe disse, - o jovem falou.
Disse o quê? Varzil se perguntou.
O homem moveu sua mão como manipulasse algo e o estômago de Varzil caiu a seus pés. Não, ainda estava sob um chão sólido, mas a própria sala estava se erguendo. Parou um momento depois e eles atravessaram uma passagem arqueada que apareceu em uma parede. A sala iluminada se abriu em um amplo terraço.
Certamente nem mesmo o salão de danças do maior castelo em Darkover poderia ser tão grande, Varzil pensou. Tapeçarias cobriam as paredes, brilhando com ricas cores, retratando cenas de caçadas, chieri dançando na floresta sob as quatro luas, águias pairando sobre as Hellers. O chão ladrilhado formava um mosaico que era ao mesmo tempo abundante e suave aos olhos. No lado oposto da sala, uma lareira enchia o ar com calor e um toque de incenso.
Cadeiras com braços e um longo banco com almofadas formavam um rústico meio círculo ao redor da lareira. Uma mulher e dois homens estavam sentados ali, falando em tom baixo. A mulher encontro o olhar de Varzil. Tinha mais ou menos a idade da tia favorita de Varzil, baixa e compacta, sem ser gorda, as rugas ao redor de seus olhos dando-lhe a aparência de estar sempre à beira do riso. Ela se levantou e dispensou os homens com um gesto, algo que nenhuma mulher na família de Varzil ousaria fazer.
- Saia você também, Carlo, - ela disse ao jovem de cabelo vermelho.
- Mas… - ele protestou.
Ela cruzou os braços sobre seu peito amplo e coberto com um xale, silenciando-o. - O que acontece agora não é problema seu.
O jovem deu uma impecavelmente educada e seca reverência, deixando a sala através da passagem arqueada no lado oposto, mas não antes de dar uma rápida piscadela para Varzil.
Varzil prendeu a respiração. Depois dos anos de desejo, meses de planejamento, a fuga noturna, e as longas horas de espera, as coisas estavam acontecendo muito rápido.


continua...

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