De Marion Zimmer Bradley
Tradução: Ariane Pierine
...
- Não funciona no escuro – o menino ainda defendia seu ponto de vista.
- Ah, eu concordo que precisa de luz para funcionar, mas se fosse só a luz a ativá-lo, todas as melodias, menos a de baixo, tocariam de uma só vez.
O ser da visão de Haramis atravessou o quarto para ver o que a menina segurava. Era um de seus brinquedos favoritos quando era criança. Era uma caixa de música, sobrevivente do tempo dos Desaparecidos, um cubo que tocava uma melodia diferente, dependendo do lado sobre o qual ficava apoiado.
- Olha, Fiolon – a menina apontou, segurando o cubo de forma que uma aresta tocasse no chão no meio dos dois. – Se fosse apenas a luz, deveria estar tocando pelo menos uma música agora, está recebendo luz direta do sol – ela virou a caixa, deixando-a apoiada sobre um lado, e começou a tocar uma melodia. – Viu? Tem que estar com um lado inteiro no chão ou... – ela levantou o cubo todo - ...paralelo ao chão.
- Horizontal, você quer dizer – disse o menino.
- É a mesma coisa, se o chão for plano. Agora olha aqui – ela virou a caixa para um lado, movendo-a lenta e cuidadosamente. – A música pára quando a gente inclina mais que dois dedos e, quando outro lado fica na horizontal, há uma pausa antes de começar a música de novo. E durante essa pausa – ela concluiu triunfante – sinto alguma coisa mudando no cubo. A música não começa outra vez até que essa coisa, seja lá o que for, chegue ao fundo. – Ela colocou o cubo perto da orelha. – Há uma espécie de líquido aqui dentro. Gostaria de poder abrir isso e ver o que tem dentro, e como funciona.
Fiolon estendeu o braço e tirou o cubo da mão dela.
- Não se atreva, Mikayla! Esse é o único que nós temos, e eu gosto dele. Se quebrá-lo, não caso mais com você quando a gente crescer.
- Eu conserto depois – protestou Mikayla.
- Você não sabe se vai conseguir montá-lo de novo- Fiolon observou com calma e objetividade. – Você não sabe o que é esse líquido, é pesado demais para ser água, e vai derramar se abrir isso. E não temos mais nada para saber como era a música dos Desaparecidos.
Mikayla riu.
- Você só não quer se arriscara destruir qualquer fonte de música. Acho que seu pai deve ter sido um músico.
Fiolon deu de ombros.
- Jamais saberemos.
Mikayla pegou o cubo de volta e equilibrou-o numa das mãos.
- Acho que tem razão quanto ao líquido. Realmente parece pesado demais para ser água, e a coisa que tem aí dentro se mexe devagar demais para estar flutuando em água – ela deu um suspiro. – Queria encontrar mais desses.
- Eu também – concordou Fiolon. – Aí talvez pudéssemos ter mais melodias.
- E se encontrássemos uma igual, eu poderia desmontar para ver o que tem dentro.
- Por que você quer sempre saber como as coisas funcionam?
Mikayla deu de ombros.
Por querer. Por que você quer sempre compor uma canção sobre tudo?
Fiolon mexeu os ombros do mesmo jeito.
- Por querer.
Eles se entreolharam e caíram na risada.
Haramis deu uma risadinha e se viu de vota na sua torre, olhando para a bacia. Sua respiração tinha perturbado a superfície da água, interrompendo a visão.
Bem, ela pensou, eles certamente parecem bem inteligentes, mas tenho dificuldade de vê-la como arquimaga. Terei de descobrir mais sobre ela – e sobre ele. Quanto à observação que fez sobre o casamento, parece que os dois estão comprometidos, mas é muito estranho ele não saber quem foi seu pai. E apesar das roupas terem sido herdadas de alguém, quando novas eram de boa qualidade, e as crianças não falavam como servos.
Haramis vestiu-se apressada e foi tomar o café da manhã. Tinha de escrever cartas e mandar mensagens.
continua...
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