Autor: Marion Zimmer Bradley e Deborah J. Ross
Tradução: Gisele Conti
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Apesar das intenções de Dom Felix de uma partida rápida, a caravana dos Ridenow não passou os arredores da Cidade de Arilinn até que o grande sol vermelho estivesse alto no céu. O gramado ao longo da estrada tinha perdido sua cobertura de orvalho horas atrás. A promessa do ligeiro calor dos dias de outono subia da terra. Os homens estavam ansiosos para retornar, cansados das noites de celebração que estavam mais para reuniões políticas do que entretenimentos. Varzil cavalgava silenciosamente na posição em que seu pai o colocara, segundo na procissão. Ele não falava, nem mesmo quando surgia algum comentário casual em sua direção. Suas sensações internas se concentravam lá trás, na direção de Arilinn e seus sonhos se desvanecendo.
A estrada diante dele ondulava. Cores se entrelaçavam... o traseiro castanho-avermelhado do cavalo à sua frente, o dourado dos arbustos ressequidos pelo sol, o cinza das rochas, a camada de névoa no céu. Ele deixou as rédeas soltas no pescoço de sua montaria e pressionou as duas mãos sobre a dor em seu peito. Uma corda invisível amarrava seu profundo ser à Torre que há essa hora já havia desaparecido de vista. Pensou que devia estar sangrando, embora seu coração batesse regularmente, e então percebeu que a dor não era física.
- Varzil, rapaz? - Uma voz o alcançou na distância. Era Gwilliam, o jovem robusto cavalariço que ficara nos estábulos com os animais nos arredores de Arilinn.
- Deixe-o. - Essa era a voz de seu pai. - Quando estivermos em casa, ele ficará bem.
Eu não estou bem. Eu nunca estive bem.
É assim que um laranzu de Arilinn pensa? Afundando-se em auto-piedade como uma criança mimada? As palavras ressoaram através de seu crânio.
Ele conhecia aquela voz mental, tão clara e poderosa. Quem mais podia alcançá-lo àquela distância, ou falar com ele tão claramente?
Auster!
O próprio. Você não podia ter ficado conosco contra a vontade de seu pai. Mas não duvide de seu Dom. Nunca duvide. Se for a vontade dos deuses, nós nos encontraremos novamente. Não perca as esperanças.
Antes que Varzil pudesse formular uma resposta, o contato telepático se desvaneceu. Diante dele, além da cabeça balouçante de seu cavalo, a estrada se estendia através das Planícies de Arilinn. De ambos os lados, pesados arbustos pendiam sob seu próprio peso. Cada galho e folha queimada de sol brilhavam com uma claridade cristalina. A dor em seu corpo regrediu para um incômodo.
Varzil espreguiçou-se na sela e ergueu as rédeas. O cavalo, sentindo a nova energia em seu montador, apertou o passo.
Quando Dom Felix disse, - O que eu lhe disse? - Varzil apenas acenou.
Eles viajaram no que restava da manhã. Nos dois lados, plantações e arados traçavam desenhos através dos campos.
Enquanto descansavam no calor do meio-dia, uma brisa soprou, carregada com o aroma antiquado e adocicado de Orain. Insetos zumbiam e estalavam. Os cavalos puxavam seus freios para manterem-se à margem da estrada.
O calor suavizou a tensão nos músculos de Varzil e ele viu-se balançando na sela. Seu pai não sentava mais tão reto, mas não haveria pausa para um cochilo. Então ele se endireitou, soltou seus pés dos estribos, e deixou seus pensamentos vaguearem.
Finas nuvens se espalhavam pelo céu, deixando-o quase branco. A luz caia diretamente sobre eles. Uns poucos arbustos e pequenas árvores próximos à estrada forneciam um pouco de sombra recortada, quase tão quente quanto a estrada. Os cavalos há muito já haviam passado do passo rápido para o mais lento e depois para um ainda mais pesado. Suor escorria de seus pescoços e flancos.
Dom Felix ordenou uma parada no meio da tarde em um pequeno córrego que serpenteava próximo a estrada. Os cavalos enfiaram seus focinhos sob a superfície ondulante. Os homens desmontaram, mataram sua sede mais acima, e lavaram suas mãos e rostos. Dom Felix ficou sentado impassível em seu cavalo, embora aceitasse um copo. Sua face estava pálida da cor de giz e os músculos de seu maxilar salientes de tanto cerrar os dentes.
Varzil andou até onde o parente de seu pai, Black Eiric, estava ajudando Gwilliam a checar os cobertores de sela, a procura de saliências ou dobras. Eiric Ridenow não era aquele de mesmo nome que acabara de se tornar Lorde Serrais, mas de uma linhagem bem mais inferior e era chamado assim porque havia nascido com a cabeça forrada de cabelo escuro. O cabelo desde então se tornara um profundo castanho-avermelhado, mas o apelido de infância continuou. Agora ele era um homem robusto entrando na meia-idade, extremamente competente, atuando com freqüência na capacidade de ajudante de ordens de Dom Felix.
continua...
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